A praia de Copacabana está lotada, mas, no lugar de biquínis
e sungas, o que se vê neste sábado (11) de céu fechado e temperatura baixa são
cruzes no pescoço, bíblias debaixo do braço e uma multidão disposta a louvar o
nome de Deus em um dos pontos turísticos mais famosos do Brasil.
No posto dois, em frente ao Copacabana Palace, milhares de
fiéis se reuniram no evento evangélico Esperança Rio, que começou a partir das
16h e trazia na programação nomes célebres da música gospel, como a cantora
Aline Barros e o rapper americano KB.
Por volta das 18h, o presidente Jair Bolsonaro apareceu em
telões e fez um rápido pronunciamento a distância.
Após citar a questão econômica, disse: “Temos um outro
problema, este espiritual que o Brasil não está ausente, que é a luta do bem
contra o mal”.
Também afirmou, sob forte aplauso do público: “Nós bem
sabemos o que queremos e o que defendemos. Somos contra o aborto, a ideologia
de gênero e contra a liberação das drogas”.
E concluiu: “Defendo a família e a liberdade como bem
maior, a incluir a liberdade religiosa.”
Segundo o Datafolha, a parcela da população brasileira que
quer proibir o aborto em qualquer circunstância caiu no período de quase quatro
anos. De dezembro de 2018 até hoje, o índice daqueles que dizem concordar com a
total restrição da interrupção da gravidez no país recuou de 41% para 32%.
Na plateia, muitos fiéis usavam faixas na cabeça com dizeres
religiosos e camisas com imagens da cruz. Uma dessas pessoas era a dona de casa
Rosângela de Oliveira, 47.
Moradora de Bangu, a 49 quilômetros de Copacabana, ela diz
que a expectativa era grande para o evento. “Jesus vai fazer uma grande
obra, um grande mover aqui. O objetivo aqui é salvar vidas.”
Evangélica há quatro anos, a dona de casa diz que deve a
própria vida à ação divina. Em 2018, ela sofreu uma depressão profunda.
“Cheguei e falei com Deus. Perguntei: ‘Se você é esse Deus mesmo que todo
mundo fala, muda a minha vida.”
Para ela, eventos como esse são uma forma de unir pessoas que
querem exaltar o nome de Deus, independentemente da religião. “Deus não
escolhe entre evangélico, católico ou espírita. Pode vir católico ou
candomblecista. Deus só olha para o coração.”
A católica Elizabeth Nunes, 63, diz que decidiu comparecer
ao evento por entender que a religião não é uma fronteira para quem quer
celebrar Deus.
“Nós somos filhos de Deus. Isso independe de religião.
Você é meu irmão, também é filho do criador. Deus é um só. Jesus é um só”,
diz ela, que não escondia o entusiasmo.
No calçadão, ela pulava e cantava toda vez que uma câmera
passava filmando o público. “Essa iniciativa é maravilhosa por trazer a
energia de Jesus Cristo. É ele que traz a direção aos jovens e esperança aos
idosos.”
O evento que reuniu os fiéis foi organizado pela Associação
Evangelística Billy Graham. A entidade foi fundada nos Estados Unidos pelo
pastor Billy Graham, considerado uma das maiores lideranças evangélicas do
mundo.
Tido como uma espécie de papa do movimento evangélico, ele
pregou para mais de 200 milhões de pessoas em 185 países, inclusive no Brasil,
e morreu em 2018, aos cem anos.
Para minimizar problemas no trânsito por causa do evento, a
Prefeitura do Rio montou um esquema especial, com alterações em vias de
Copacabana, Botafogo e do aterro do Flamengo. A operação conta com a
participação de 250 pessoas, entre agentes da Guarda Municipal e da CET-Rio
(Companhia de Engenharia de Tráfego). (Matheus Rocha-Folha Press).
Foto: PATRICK T.
FALLON/AFP via Getty Images