ACM, que completaria 97 anos, era apaixonado por eleições e venceu sete vezes

Ele se orgulhava de dizer: “Eu
nunca perdi uma eleição quando meu próprio nome esteve em jogo”. E ele tinha
razão. Nas sete eleições que disputou durante a vida, Antonio Carlos Magalhães,
que completaria 97 anos de idade hoje se estivesse vivo, não perdeu nenhuma.

E, ao longo de 50 anos no poder,
ocupou os cargos de deputado estadual, federal, prefeito de Salvador, senador e
governador. O mais marcante pleito que disputou? Os aliados políticos e amigos
não têm dúvida: a briga eleitoral pelo governo da Bahia em 1990.

Esta eleição ficou gravada na
memória dos baianos pelo célebre jingle “ACM, meu amor”, de Vevé Calazans e
Gerônimo, e por um embate acirradíssimo. Mesmo com apoio de Antonio Carlos,
Josaphat Marinho perdeu a corrida eleitoral para Waldir Pires em 1986. Para que
seu grupo político retornasse ao poder quatro anos depois, ACM decidiu colocar
o seu próprio nome nas urnas, que nem eram eletrônicas ainda, e enfrentar cinco
adversários. E venceu no primeiro turno com 20 mil votos a mais do que o
necessário.

“Foi um marco importantíssimo
essa eleição. Ele ganhou no primeiro turno contra diversos candidatos, com
estruturas partidárias. E todos contra ele querendo levar a eleição para o
segundo turno. E a apuração naquela época durou mais de 10 dias. Houve até
apuração paralela porque houve tentativa de fraudes, e ele acompanhou todos os
dias”, relembra o filho e ex-senador Antonio Carlos Magalhães Júnior.

Para o conselheiro aposentado do
Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Fernando Vita, era nos palanques
eleitorais que ACM se sentia em casa. Os discursos eram quase sempre
improvisados. E, pelo menos, duas frases não podiam faltar: “vocês (baianos) estão
no meu coração, e estou no coração de vocês”, e “essa terra (a Bahia) é a razão
da minha vida”.

“Um palanque em que estivesse
Antonio Carlos Magalhães podia ter o presidente que fosse, mas a estrela aqui
na Bahia era ele. Antonio Carlos foi aqui na Bahia o último grande astro dos
tempos de palanques. Eram discursos com timing político muito bons. Era um
grande eloquente”, observa Vita.

Aliás foi com Antonio Carlos que
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ter aprendido a discursar nos
comícios. Em sua autobiografia “A arte da política”, FHC relatou que, durante
um evento eleitoral em 1994 em Canudos, no nordeste baiano, ele só ficou vendo
o “professor” dando aulas. “Ele era um peixe nágua nos comícios.
Impressionante. Ele fica à vontade com o povo, se eletriza, e como quem
mergulhava, fisicamente, na multidão antes ou depois de subir no palanque”,
escreveu.

Vice-presidente nacional do União
Brasil, ACM Neto diz que seu avô se transformava em épocas eleitorais. “Ele
tinha uma vitalidade impressionante. Recebia centenas de candidatos, conversava
com todos, viajava para o interior, fazia vários comícios, anotava as
reivindicações, conversava com lideranças e dava muitos conselhos
principalmente para os mais jovens”, lembra.

HISTÓRICO

“A eleição, para um político como
ele, era uma parte integrante da sua vida”, diz Paulo Souto sobre o amigo. E
foi ainda jovenzinho que o médico por formação Antonio Carlos começou a
participar dos embates eleitores. Aos 27 anos, conquistou o seu primeiro
mandato como deputado estadual pela antiga União Democrática Nacional (UDN). E
tomou gosto. Quatro anos depois, tornou-se deputado federal, sendo reeleito
para mais dois mandatos consecutivos, em 1962 e 1966.

Durante o regime militar, ACM foi
prefeito de Salvador e governador da Bahia duas vezes por nomeação. É na década
de 1990 que volta a receber o “banho de votos popular”. Primeiro, sendo eleito
para o Palácio de Ondina e depois para o Senado Federal duas vezes (1994 e
2002).

ACM Júnior relembra que o pai
fazia questão de ouvir muito o irmão, o ex-deputado federal Luís Eduardo
Magalhães, durante as eleições. Principalmente, quando era para definir as
chapas.

Já perto de iniciar o pleito de
1994, quando Antonio Carlos concorreu a senador, Luís cobrou ao pai a definição
do suplente ao Senado e recebeu uma resposta com gracejo: “Só não quero alguém
que torça para eu morrer”. Luís Eduardo olhou, apontou para o irmão Júnior e
disse: “então, o seu suplente é aquele ali”. Riram todos.

DIAS DECISIVOS

E como era Antonio Carlos nos
dias de votações? Os aliados e amigos garantem: havia preocupação, mas sem
nervosismo nem ansiedade. Ele marcava sempre às 11 horas da manhã para ir votar
no Clube Bahiano de Tênis, no bairro da Barra. No último pleito em que
acompanhou, mas sem concorrer, em 2006, ele votou na Escola de Administração da
Universidade Federal da Bahia (Ufba), no Canela.

“No dia da eleição, ele tinha
aquele prazer imenso. Ele saia para votar acompanhado de todos que pudesse
levar. Do mesmo jeito, ele acompanhava seus liderados. Ele ia votar com o
candidato a governador, senador e amigos”, recorda Fernando Vita.

No final do dia, quando as urnas
eram abertas, Antonio Carlos via a apuração em casa. Na época de governador, no
Palácio de Ondina. Fora do governo, ele acompanhava em seu apartamento no
bairro da Graça.

Mesmo já sem tanta saúde, ACM
gostava de estar presente em caminhadas e carretas durante esses últimos anos
de vida. Em algumas, até se sentiu mal. “Ele fazia questão de estar presente e
era uma figura importante para a gente”, afirma Paulo Souto. (Fonte:
Correio24horas) *Colaborou a repórter Millena Marques.

(Blog do Zebrão)

Foto: Correio da Bahia

Tópicos