Fundador da primeira emissora
radiofônica no Brasil – a Sociedade do
Rio de Janeiro -, precursora da atual Rádio MEC, Edgard Roquette-Pinto nascia
há 140 anos, no Rio de Janeiro. Médico legista, professor, antropólogo,
etnólogo e ensaísta, ele morreu em 18 de outubro de 1954, aos 69 anos, após uma
parada cardíaca.
Em 1922, ano em que foi
comemorado o 1º Centenário da Independência do Brasil, ocorreu no Rio de
Janeiro, então capital federal, uma grande feira internacional sobre
radiodifusão.
Na ocasião, Roquette-Pinto
comemorou a tecnologia afirmando que aquela era “uma máquina importante
para educar o povo”.
Para a jornalista e radialista
da EBC Mara Régia, Roquette foi um sonhador que nos idos de
1923 idealizou o rádio como a escola dos que não tinham acesso a ela.
“Seu desejo e sua
persistência em permitir o acesso de toda a população brasileira a uma forma de
educação acessível se traduzem hoje na missão das rádios públicas desse nosso
país, unidas cada vez mais por uma comunicação democrática e plural como é o
caso das emissoras de rádio da nossa Empresa Brasil de Comunicação
(EBC)“, destaca Mara, apresentadora dos programas Viva Maria e Natureza Viva.
Projetos
Em 20 de abril de 1923, Roquette
fundou a primeira emissora oficial do país, a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro. Os equipamentos foram comprados pela Academia Brasileira de CIências.
O projeto era levar informação educativa, cultural e científica à população.
Em 1952, com a finalidade de
ampliar o número de emissoras na capital federal – as TVs Tupi de São Paulo e
do Rio já estavam em funcionamento -, Getúlio Vargas concedeu a Roquette-Pinto
um canal de televisão.
Porém, a TV Educativa de
Roquette-Pinto nunca saiu do papel. Edgard Roquette-Pinto morreria amargurado
dois meses após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
Legado
Três anos depois de fundar a
Rádio Sociedade, Roquette-Pinto lançou a revista Eléctron, dedicada à
recém-surgida tecnologia do rádio com diagramas de receptores da época. Foi a
primeira revista desse segmento no Brasil. Em 1936, ele doou a emissora ao governo
brasileiro, especificamente ao Ministério da Educação, transformada então na
Rádio MEC.
Roquette-Pinto também foi
radioamador e participou de várias associações da categoria, como a Liga dos
Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (Labre).
Na Academia Brasileira de Letras
(ABL), Roquette-Pinto foi o terceiro ocupante da Cadeira 17, eleito em 20 de
outubro de 1927, na sucessão de Osório Duque-Estrada.
Ele também é homenageado pela
Academia Brasileira de Médicos Escritores como patrono da Cadeira 33, cujo
fundador é o médico paulista Helio Begliomini.
Pesquisadores apontam o
envolvimento de Roquette com o movimento eugenista, mas ponderam que ele
defendia a inclusão negros e mestiços do processo de
“aperfeiçoamento” da nação brasileira.
Censura
Em 1936, os aparelhos de rádio já
podiam ser comprados em lojas do ramo.
Nesse mesmo ano, a Sociedade Rádio do Rio de Janeiro foi doada ao Ministério da
Educação e Saúde, que tinha como titular Gustavo Capanema.
Ele comunicou a Roquette-Pinto
que a rádio seria incorporada ao Departamento de Propaganda e Difusão Cultural
(mais tarde, em 1939, desse departamento surgiria o DIP), órgão responsável
pela censura durante parte do governo de Getúlio Vargas.
Em resposta, Roquette-Pinto
insistiu que emissora fosse incorporada ao Ministério da Educação e Saúde, a
fim de preservar a função educativa e ganhou a disputa. A Rádio Sociedade
passou a se chamar Rádio Ministério da Educação ou, como é hoje conhecida, Rádio
MEC, mantendo, até hoje, o ideário educativo.
A Rádio MEC é reconhecida pelo
público por sua programação dedicada à música clássica e programas culturais. A
emissora dedica 80% de sua programação à música de concerto e leva ao ar
compositores brasileiros e internacionais de todos os tempos. Desde 2007, ela é
gerida pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em 5 de julho de 2022, ela foi
declarada Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial do Rio de Janeiro.
“Toda essa história é marcada por
grandes coberturas, valorização da cultura e da educação e programação musical
que privilegia a cena brasileira”, destaca o gerente executivo das Rádios EBC,
Thiago Regotto.
Análise
O professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Fernando Oliveira Paulino, que
também é presidente da Associação Latino-americana de Pesquisadores da
Comunicação Pública (Alaic), disse que ainda hoje, passados mais de 100 anos, o
rádio que teve Roquette-Pinto como pioneiro continua sendo grande mecanismo de
comunicação, de acesso à tecnologia, de formação do conhecimento.
“Ao contrário do que muitos
pensam, o rádio continua bastante vivo e seguirá certamente usando outras
plataformas. Começou com AM, depois FM, depois surgiu o rádio
digital. Hoje em dia, a internet, alcançando grande público, setores
diferenciados, atuando em situações de necessidade, como o que
ocorreu recentemente no Rio Grande do Sul, e agora com a seca e as
queimadas, demonstra a importância do rádio como mecanismo do processo de
informação”, afirmou.
Paulino citou também algumas
especificidades na programação de cada emissora. No caso da Rádio MEC, segundo
ele, há um ativo bastante significativo em relação ao acesso à cultura,
à programação musical. Ele lembrou também a força da Nacional do
Rio de Janeiro, emissora, fundada em setembro de 1936, que deixou
um legado em relação aos noticiosos, à música popular brasileira e a
tantas pessoas que passaram pela maior emissora da América Latina.
O pesquisador destacou os
programadores e intérpretes, nas ondas da Rádio Nacional do Rio de
Janeiro, que compõem ainda a comunicação pública e fazem parte desse
patrimônio nacional. “Acho que é essencial valorizar as pessoas que já
passaram, que passam e que passarão pelos corredores históricos dessas
emissoras que alcançam não só o Rio de Janeiro, mas especialmente pela internet
o mundo inteiro”. (Agencia Brasil)..
Douglas Corrêa – Repórter da Agência Brasil
Foto: Acervo/agencia Brasil