O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da
Lava Jato em primeira instância, aceitou a solicitação da defesa do presidente
da Odebrecht S.A., Marcelo Odebrecht, que pediu mais prazo para responder sobre
as anotações encontradas pela Polícia Federal (PF) no celular do cliente deles.
O despacho foi publicado às 12h15 desta quinta-feira (23).
Com a decisão, a Odebrecht terá até segunda-feira (27) para esclarecer os
fatos.
De acordo com o juiz, as anotações fazem referências a
supostas manipulações nos trabalhos de investigação da PF e da Justiça Federal.
O prazo para as explicações venceria nesta quinta. A defesa
justificou o pedido dizendo que precisaria falar com o próprio Marcelo para que
ele explicasse o conteúdo dos textos.
Para o juiz, as mensagens também podem fazer referência a
outros dois ex-executivos da Odebrecht, presos na 14ª fase da Lava Jato, quando
Marcelo Odebrecht foi detido. No smartphone do executivo, conforme o inquérito
protocolado na terça-feira (21), foram encontrados os seguintes textos,
transcritos no formato original, conforme a Justiça:
“MF/RA: não movimentar nada e reimbolsaremos tudo e
asseguraremos a familia. Vamos segurar até o fim
Higienizar apetrechos MF e RA
Vazar doação campanha
Nova nota minha midia?
GA, FP, AM, MT, Lula? ECunha? (…)”
Uma análise preliminar sugere que MF e RA são siglas
referentes a Silva e Araújo, subordinados diretos de Odebrecht e também
investigados por crimes de corrupção na Petrobras, segundo o juiz Sérgio Moro.
A anotação, diz o juiz, indica que ambos estariam sendo
orientados a não movimentar suas contas e que, no caso de sequestro e confisco
judicial de bens e valores, seriam reembolsados.
Celulares
O “higienizar” é para que os diretores limpem os
dados dos celulares deles e, por consequência, destruam provas, ainda segundo
Moro. “Vazar doação” é algo que ainda não foi elucidado, mas parece
ser uma ameaça a beneficiários, afirma o juiz.
Outros trechos a serem explicados, encontrados no celular do
presidente da holding, também foram transcritos no despacho:
“(…) Assunto: LJ: ação JES/JW? MRF vs agenda BSB/Beto
Notas Dida/PR/açoes MRF. Agenda (Di e Be). limp/prep
E&C. Desbloq OOG. Dossie? China? Band? Roth?
Integrante
OA? Minha cta Tau? Perguntas CPI. Delação
RA? Arquivo Feira, V, etc. Volley ok? Panama?
Assistentes:
Localização:
Detalhes:
Acoes B
– Parar apuracao interna (nota midia dizendo que existem
para preparar e direcionar).
– expor grandes
– para apuracao interna
– desbloqueio OOG
– blindar Tau
– trabalhar para parar/anular (dissidentes PF…)
(…)”.
LJ é referência à Operação Lava Jato, segundo a Justiça.
“O trecho mais pertubardor é a referência à utilização de [dissidentes PF]
junto com o trecho [trabalhar para parar/anular] a investigação”, afirma o
magistrado. Moro ressalta que o termo “dissidentes da PF” coloca uma
sombra sobre o significado da anotação.
Outras referências como “dossiê”, “blindar
Tau” e “expor grandes” são igualmente preocupantes, afirma o
juiz. Para ele, nada indica que os recados eram dirigidos às defesas e nem que
eram originados de orientação dos advogados.
Mesmo assim, Moro diz “oportunizar” as defesas
para que esclareçam as anotações “graves”, já que, pelo sigilo profissional
que é de direito, estratégias ilícitas, como a destruição de provas, poderiam
ser acobertadas pelos advogados. ( G1 PR)
(Foto: Reprodução/TV Globo)