Quero reproduzir o que ouvi de um dos maiores advogados
deste país: ?Marcelo Odebrecht não vai fazer delação premiada, na instrução da
Operação Lava Jato, porque vai confiar na capacidade da empreiteira de
alimentar os tentáculos de que dispõe no
Executivo, Legislativo e Judiciário. Ele não vai delatar ninguém para preservar
a confiança na empreiteira de que é dono. Quem vai continuar fazendo delações
são os executivos do chamado ?médio clero?. Na Odebrecht, todos confiam no que
aconteceu na Operação Castelo de Areia: por isso Marcelo não vai delatar?.
Na maior crise de sua história, a Camargo Corrêa, um grupo de R$ 16 bilhões,
foi acusada, na Operação Castelo de Areia, de pagar propinas de R$ 30
milhões. Óbvio que a Castelo de Areia
virou um pleonasmo: desde que entrou no caso, para defender a empreiteira, o
finado e refinado ex-ministro da Justiça de Lul,a Márcio Thomaz Bastos,
contratado para blindar a Camargo Corrêa.
Vou relatar passo a passo a Castelo de Areia para você entender
no que se fia Marcelo Odebrecht para suster o seu silêncio.
Vejam a mídia noticiando o início da Castelo de Areia, de 25
de março de 2009:
A Polícia Federal realizou na manhã desta quarta-feira (25)
uma operação de combate a crimes financeiros, entre eles evasão de divisas,
lavagem de dinheiro e fraude em licitações em São Paulo e no Rio de Janeiro. A
operação recebeu o nome de Castelo de Areia.
Segundo a assessoria de imprensa da PF, foram expedidos 16
mandados de busca e apreensão e dez de prisão nos dois estados ? entre eles,
contra quatro diretores e duas secretárias de alto escalão da construtora
Camargo Corrêa. Nesta manhã, a PF estava no prédio da construtora, na Zona Sul
da capital paulista?.
Vejam um trecho que
retirei da mídia, de dezembro de 2009:
Cena 1. Terça-feira,
15 de dezembro. Depois de se reunir com analistas de mercado no Hotel
Renaissance, em São Paulo, o executivo Francisco Sciarotta, superintendente da
CCDI, braço da Camargo Corrêa na área imobiliária, sai às pressas para não ser
abordado por repórteres. Ao ser questionado sobre a Operação Castelo de Areia,
que em março deste ano prendeu quatro executivos da Camargo Corrêa, ele
responde de forma lacônica: ?Desculpe, tenho ordens expressas para não falar
sobre isso.? Cena 2. Quarta-feira, 16 de dezembro. Contratado por R$ 15 milhões
para defender a empresa, o advogado Marcio Thomaz Bastos, ex-ministro da
Justiça do governo Lula, avisa, via assessor: ?Entrevistas sobre esse caso, só
por e-mail.? Horas depois, ele retorna, de forma protocolar, dizendo que tudo
sobre o caso ?já foi respondido?. Vistas em conjunto, as duas cenas revelam que
a Camargo, na maior crise de sua história, decidiu erguer um dique?
Bem: o Castelo de
Areia começou a desmoronar?
Voltemos à crônica. Em
janeiro de 2010, o então presidente do STJ, ministro Cezar Asfor Rocha, (nomeado por Collor) determinou a suspensão
dos processos criminais e investigações, até que fosse resolvida a questão
sobre a origem das provas.
A cinco de abril de
2011, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou ilegais as
provas produzidas a partir de interceptações telefônicas na Operação Castelo de
Areia, da Polícia Federal, deflagrada em fevereiro de 2009. Cabia recurso à
decisão. A investigação apurou o envolvimento da construtora Camargo Corrêa em
desvios de dinheiro de obras públicas. O dinheiro teria sido usado para
abastecer contas ilegais no exterior e fazer doações a partidos políticos.
Por 3 votos a 1, os
ministros concederam pedido da defesa da construtora para que fossem
consideradas inválidos os grampos. Os advogados da Camargo e Corrêa alegaram
que a as escutas são irregulares por terem começado a partir de denúncia
anônima.
?Investigações são
nulas desde o início por terem sido iniciadas por denúncia anônima. Falta
efetiva fundamentação na decisão que determinou o acesso ao sigilo telefônico
pelos policiais?, afirmou a defesa da construtora no processo.
Bem: no ultimo dia 19 de fevereiro, o ministro Luís Roberto
Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou recurso da Procuradoria
Geral da República que tenta validar as provas da Operação Castelo de Areia,
deflagrada em 2009 e que apurou o envolvimento de doleiros e da construtora
Camargo Corrêa em desvio de dinheiro de obras públicas. A Procuradoria ainda poderá
recorrer para tentar decisão colegiada nas turmas ou no plenário.
Entenderam o porquê de Marcelo Odebrecht não querer fazer
delação premiada ? Como me disseram alguns advogados, corremos o risco, mais
uma vez e como na Castelo de Areia, de o STJ ou STF ?matarem no peito? o caso da Odebrecht na
Lava Jato.
Difícil digerir isso, não?
Como ninguém é de ferro ou aço, vamos então curtir Jimi Hendrix cantando
o seu Castelo de Areia.
Por Claudio Tognolli | Blog Claudio Tognolli