Documentos revelam elo de cartel da lava jato com Dirceu e mulher de ex-ministro do Peru

Os investigadores da Operação Lava Jato têm os contratos,
notas e trocas de mensagens da Galvão Engenharia – empreiteira acusada de
cartel e corrupção na Petrobras – e a SC Consultoria, empresa de Zaida Sisson
de Castro, mulher do ex-ministro da Agricultura do Peru, Rodolfo Beltrán Bravo
(governo Alan García). Zaida é suspeita de ser o elo do ex-ministro José Dirceu
com o governo peruano.

A Polícia Federal afirma, em relatório da Operação Pixuleco
– 17ª fase da Lava Jato, que levou Dirceu e outras sete pessoas à prisão e fez
buscas em endereço de Zaida no Brasil, na segunda-feira, dia 3 -, que a mulher
do ex-ministro do Peru foi destinatária de valores remetidos pela JD Assessoria
e Consultoria, empresa do ex-ministro usada para dar consultorias e palestras,
após ele deixar o governo Luiz Inácio Lula da Silva em 2005.

Foram identificadas pela Polícia Federal 20 transferências
bancárias da JD para a empresa de Zaida, entre 16 de janeiro de 2009 e 16 de
novembro de 2011, totalizando R$ 364.398,00. Nesse período, Dirceu foi
contratado por duas empreiteiras do cartel que atuava na Petrobras, para
supostamente prospectar negócios no Peru, entre elas a Galvão Engenharia e a
Engevix.

Zaida anota que prestou efetivamente serviços de consultoria
para a JD no Peru, mas que a SC Consultoria nunca recebeu valores da empresa de
Dirceu. Diz que iniciou um trabalho conjunto em 2008, dado seu conhecimento com
o mercado peruano. “Apresentei meus serviços para identificar
possibilidades para empresas do Brasil no Peru, principalmente na área de
infraestrutura.” O vínculo com a empresa do ex-ministro preso terminou em
setembro de 2011, destaca.

“A SC Consultoria nunca faturou para a JD”, disse
Zaida. “A Blitz de Brasil é que faturou a JD, porque tinha empresas que
queriam pagar aqui (no Brasil).” A Blitz está registrada em nome da filha
da investigada.

Triangulação

Para investigadores da Lava Jato, os contratos e notas que
mostram o vínculo entre empreiteiras do cartel, a JD de Dirceu e a SC da mulher
do ex-ministro peruano são indícios claros de uma triangulação entre o
ex-ministro e Zaida em um esquema de propina oculto em forma de
“consultorias”.

“José Dirceu expandiu sua [consultoria] para Zaida,
que, segundo Milton Pascowitch, seria casada com um agente político do Peru,
para atuação naquele país”, registra o delegado Polícia Federal Márcio
Adriano Anselmo, no pedido de prisão do ex-ministro.

Zaida Sisson, mulher de Rodolfo Beltrán Bravo, ex-ministro
da Agricultura do Peru (governo Alan García), foi alvo da Operação Pixuleco,
17.º capítulo da Lava Jato. A Polícia Federal vasculhou um apartamento no
Centro de São Paulo, endereço da investigada, segundo os investidores.

Brasileira, ela teria sido elo do ex-ministro-chefe da Casa
Civil (Governo Lula) José Dirceu em negócios da empreiteira brasileira Engevix
e Galvão Engenharia no Peru.

Zaida Sisson foi citada na delação premiada do lobista
Milton Pascowitch, que denunciou propinas para o ex-ministro José Dirceu.
“Zaida foi mencionada por Milton como esposa do Ministro da Agricultura do
Peru e indicada por Dirceu a atuar na obtenção de contratos para a Engevix naquele
país. Aliás, Zaida também foi citada em informações prestadas por outra
empreiteira cartelizada, a Galvão Engenharia, como responsável pela SC
Consultoria S.A.C., indicada por Dirceu para prestar assessoria à Galvão no
Peru”, aponta documento do Ministério Público Federal no pedido de prisão
de Dirceu.

Documentos

Os contratos em poder da PF foram entregues pela própria
Galvão Engenharia, a pedido do delegado Eduardo da Silva Mauat. Eles foram
apresentados junto com os contratos e notas de pagamentos para a JD Assessoria
e Consultoria, do ex-ministro. Para a empreiteira, os serviços são legais e
foram executados.

Nos argumentos que apresentou à Polícia Federal, a Galvão
explicou que contratou em 2009 a JD para buscar negócios na América Latina. O
contrato foi mantido até 2011 prevendo pagamentos mensais de R$ 25 mil.

A Galvão informou que contratou a SC Consultoria por
intermédio da JD. “Dentro do escopo contratado, a JD Assessoria e
Consultoria Ltda, por meio de parceria internacional, disponibilizou os
serviços da empresa SC Consultoria para proceder o apoio necessário à expansão
do negócio da Galvão Engenharia S.A em solo peruano”, informou a
empreiteira à Lava Jato.

Em nota enviada ao jornal “O Estado de S. Paulo”,
a mulher do ex-ministro informou que “no caso da Construtora Galvão e
Engevix não participou em nenhum projeto concluído ou em curso a estas
empresas”.

A PF tem um contrato com a SC de 15 de julho de 2010. Pela
Galvão, quem assina é Marcos de Mora Wanderley. O contrato previa o pagamento
mensal de US$ 5 mil. O contrato foi reincidido pela Galvão em 25 de junho de
2012 de forma amigável entre as partes.

O contrato da SC Consultoria com a Galvão teria servido para
buscar negócios em dois projetos: Projeto Especial Binacional Puyango-Tumbes,
para irrigação das áreas de cultivo no Peru e no Equador, e o Projeto Especial
de Irrigação da Marge Direita do Rio Tubes.

Segundo a Galvão, a “SC Consultoria ainda auxiliou a
Galvão em projeto de saneamento contratado junto à estatal peruana Sedapal (Empresa
de Servicios de Agua Potable Y Alcantarillado de Lima), intermediando as
demandas da empresa junto ao cliente”, em 2010.

Zaida informou na quarta-feira, 5, que jamais recebeu
pagamentos ilícitos da JD, empresa do ex-ministro José Dirceu. Zaida é
taxativa. “Não é certo como mencionam alguns meios que fui o braço direito
ou operadora do sr. Dirceu em Peru. Meu rol foi sempre laboral e de orientação
com o devido cumprimento e ética.”

“Rechaço categoricamente haver recebido pelas
consultorias neste período comissão ou pagamento com algum propósito
ilícito”, ela afirma. “Meus honorários foram em torno de R$ 15 mil
durante 35 meses devidamente justificados e declarados ante as autoridades
tributárias de ambos países.”

“Por quase três anos, a SC Consultoria deu suporte a
alguns projetos da Galvão Engenharia, realizou reuniões periódicas com
representantes da peticionária com ministros da Agricultura, com o presidente
regional de Tumbes no Peru, prospectou possíveis projetos de interesses nas
áreas de infraestrutura, saneamento, rodovias, etc., sendo que em ao menos uma
dessas reuniões José Dirceu esteve presente”, declarou a Galvão, em
documento entregue à PF, datado de 16 de abril.

Defesa de Zaida

Zaida informou nesta quinta-feira, 6, que seus serviços para
a Galvão Engenharia não foram feitos via JD. “A consultoria que dei à
Galvão Engenharia no Peru não foi pela JD, porque o diretor local tinha total
autonomia e nunca chegou a conhecer o JD.”

“Tenho todas as notas fiscais e impostos pagos e eu
fazia informes do meu trabalho de 3 em 3 meses. A empresa tem todos os
documentos.”

Segundo Zaida, “a SC Consultoria nunca faturou para a
JD”. “A SC é minha empresa peruana. A Blitz de Brasil é que faturou a
JD, porque tinha empresas que queriam pagar aqui.” (AE)

FOTOS: AE E EL COMERCIO

Tópicos