A Operação Lava Jato, sem dúvida alguma, é o maior esquema
de corrupção já revelado em toda a história do país. Não somente devido ao
número de indiciados e réus, mas também pela quantidade de penas aplicadas pelo
juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela
condução das investigações em primeira instância. Somadas as condenações de
todos os réus, chega-se a impressionantes 337 anos e 5 meses de detenção, até o
momento.
A lista de condenações crescerá com o desfecho de outros
casos. Desde quando a Lava Jato foi deflagrada, em março do ano passado, Moro
condenou apenas um quinto dos acusados de envolvimento no esquema de corrupção
instalado há anos na Petrobras.
Até a última sexta-feira (21), o juiz já havia acatado
denúncias do Ministério Público Federal (MPF) contra 143 pessoas por crimes
como corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e envolvimento em
organização criminosa. Dessas, 33 (23 do total) já receberam sentenças em
primeira instância. Ainda cabem recursos em tribunais regionais federais
(TRFs), no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou mesmo Supremo Tribunal Federal
(STF).
As condenações mais pesadas até o momento são do doleiro
Alberto Youssef, tido como principal operador do esquema de corrupção, e do
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, apontado como o
principal elo entre os desvios na estatal e agentes políticos. Youssef foi
condenado a 39 anos e 6 meses de prisão, enquanto Paulo Roberto Costa recebeu
pena de 26 anos.
Ambos assinaram acordos de delação premiada para permanecer
o menor período possível na prisão. Pelo acordo, Youssef deve cumprir apenas
três anos em regime fechado. O restante da pena ele poderá cumprir em regime
semiaberto. Já Costa cumprirá três anos de prisão domiciliar ? o ex-diretor
está preso em sua residência, de onde só pode sair com autorização judicial ? e
depois poderá progredir para o regime aberto, que, na prática, é uma
flexibilização do atual. Nessa segunda etapa do cumprimento de pena, Costa
estará livre durante o dia, mas obrigado a se recolher em casa no período da
noite.
Cocaína
Além dessas principais sentenças, na lista de Moro existem
outras condenações que também já receberam penas relativamente altas. É o caso
do traficante Renê Luiz Pereira. De acordo com a denúncia do MPF, Renê Pereira
usava um posto de gasolina em Brasília (o Posto da Torre, controlado por Carlos
Habib Chater, amigo de Youssef) para disfarçar a origem ilícita de recursos
obtidos com a venda de cocaína.
O próprio Carlos Habib Chater também já foi condenado a dez
anos e 3 meses pelo crime de lavagem de dinheiro. De acordo com o MPF, Chater
cedeu seu posto de gasolina não somente para disfarçar a origem de recursos
fruto do tráfico de drogas, como também de crimes como operação ilegal de
câmbio. Ainda segundo as investigações, Chater utilizou a conta do posto para
pagar propina a políticos, entre eles o senador Fernando Collor (PTB-AL),
denunciado na semana que passou pela Procuradoria Geral da República. Collor é
acusado de ter recebido R$ 26 milhões do esquema da Lava Jato.
Ainda na lista das pessoas ligadas a Youssef que já
receberam penas altas está a doleira Nelma Kodama, condenada a 18 anos de
prisão pelos crimes de associação a organização criminosa, evasão de divisas,
corrupção ativa e por operar instituição financeira sem autorização do Banco
Central. De acordo com a denúncia do MPF, Kodama era a chefe do núcleo
criminoso de Youssef responsável por operações ilegais de cambio.
Das 33 pessoas até o momento condenadas por Moro, 16 estão
direta ou indiretamente ligadas a Youssef. São ex-funcionários do doleiro ou
empresários que mantinham empresas de fachada com ele. Também já receberam
sentenças cinco pessoas ligadas à empreiteira OAS (entre executivos e ex-funcionários),
como o presidente da empresa José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Leo
Pinheiro, que recebeu pena de 16 anos e quatro meses de reclusão por
organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Também faz parte da relação de condenados o ex-diretor da
área internacional da Petrobras Nestor Cerveró (o executivo foi condenado, até
o momento, a 17 anos de prisão) e três ex-executivos da Camargo Corrêa, um
lobista (Fernando Soares, o Fernando Baiano), dois doleiros e um ex-agente da Polícia
Federal, tido com uma espécie de office boy de Youssef.
Confira a lista
completa dos condenados na Operação Lava Jato:
Alberto Youssef, doleiro acusado de ser o líder do esquema
Pena: a 39 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e por integrar a organização criminosa.
Carlos Habib Chater, um braço-direito de Yousseff
proprietário do ?Posto da Torre?, estabelecimento que deu origem às
investigações da Lava Jato e foi utilizado como [plataforma criminosa] abastecendo
políticos e ajudando a lavar dinheiro obtido de forma ilegal
Pena: 10 anos e 3 meses pelos crime de lavagem de dinheiro
Ediel Viana da Silva, tido como braço direito do dono do
posto da Torre, Carlos Habib Chater
Pena: 3 anos de prisão por lavagem de dinheiro e falsidade
ideológica
Renê Luiz Pereira, acusado do crime de tráfico de drogas.
Pelas denúncias do MPF, ele usou o ?Posto da Torre? para disfarçar a origem
ilícita dos recursos obtidos com a venda de cocaína
Pena: 14 anos pelo crime de tráfico de drogas
Faiçal Mohamed Nacirdine, um dos contadores que trabalharam
para Youssef
Pena: 1 ano e 6 meses pelo crime de operar irregularmente
instituição financeira
Nelma Kodama, doleira, tida como líder do núcleo criminoso
responsável por ilegalidades em operações de câmbio. As investigações da Lava
Jato tiveram como uma das origens as operações de câmbio comandadas por Kodama
e Youssef.
Pena: 18 anos pelos crimes de evasão de divisas, operação de
instituição financeira sem autorização do Banco Central, corrupção ativa e por
pertencer à organização criminosa
Iara Galdino da Silva, braço-direito de Nelma Kodama
Pena: 11 anos e 9 meses pelos crimes de evasão de divisas,
operação de instituição financeira sem autorização, corrupção ativa e por
pertencer à organização criminosa
Maria Dirce Penasso, mãe de Nelma Kodama e funcionária da
casa de câmbio da filha
Pena: 2 anos, um mês e 10 dias pelo crime de evasão de
divisas e operação de instituição financeira de forma irregular
André Catão de Miranda, pessoa ligada à Youssef responsável
por operações de câmbio
Pena: 4 anos de prisão em regime semiaberto pelo crime de
lavagem de dinheiro.
Juliana Cordeiro de Moura, pessoa ligada à Nelma Kodama e
Youssef
Pena: 2 anos e 10 dias
pelos crimes de evasão de divistas e operação de instituição financeira
sem autorização do Banco Central
Cleverson Coelho de Oliveira, motorista de Kodama. Efetuava
o transporte ilegal de dinheiro do grupo
Pena: 5 anos e 10 dias pelos crimes de evasão de divisas,
por pertencer à organização criminosa e por operação de instituição financeira
irregular
Rinaldo Gonçalves de Carvalho, ex-funcionário do Banco do
Brasil apontado como facilitador de transações bancárias efetuadas por Youssef
e Nelma Kodama
Pena: 2 anos e 8 meses por corrupção passiva
Luccas Pace Júnior, ex-funcionário de Nelma Kodama, que era
ligada à Youssef
Pena: 4 anos, 2 meses e 15 dias por operar instituição
financeira irregular e por pertencer à organização criminosa
Esdra de Arantes Ferreira, apontado como um dos sócios do
laboratório Labogem, tido pela PF como laranja de Alberto Youssef. O Labogem
tentou contratos com o Ministério da Saúde
Pena: 4 anos e 5 meses pelo crime de lavagem de dinheiro
Leandro Meirelles, apontado como um dos sócios do
laboratório Labogem, tido pela PF como laranja de Alberto Youssef.
Pena: 6 anos e 8 meses pelo crime de lavagem de dinheiro
Leonardo Meirelles, irmão de Leandro, também apontado como
um dos sócios do laboratório Labogem, tido pela PF como laranja de Alberto
Youssef.
Pena: 5 anos, 6 meses e 20 dias de prisão por crime de
lavagem
Pedro Argese Júnior, empresário apontado como dono da
Piroquímica Comercial, tida como uma das empresas de fachada de Alberto Youssef
Pena: 4 anos e 5 meses pelo crime de lavagem de dinheiro
Waldomiro Oliveira, apontado como [laranja] de Youssef nas
empresas Empreiteira Rigidez e RCI Software. Elas efetuaram pagamento de
propina a agentes políticos
Pena: 11 anos e 6 meses pelos crimes de lavagem de dinheiro
e por pertencer à organização criminosa
Marcio Andrade Bonilho, sócio da empresa Sanko-Sider,
empresa que efetuou pagamentos às empresas de Alberto Youssef para o repasse de
propina
Pena: 11 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de lavagem de
dinheiro e por pertencer à organização criminosa
Carlos Alberto Pereira da Costa, apontado como gestor de
empresas de fachada de Youssef
Pena: 2 anos e 8 meses pelo crime de lavagem de dinheiro
Jayme Alves de Oliveira Filho, ex-agente da PF tido como um
office boy de Youssef. Jaime, inclusive, teria entregue recursos ao presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
denunciado essa semana pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
Pena: 11 anos e 10 meses por lavagem de dinheiro e
pertinência à organização criminosa
José Aldemário Pinheiro Filho, chamado de Pinheiro Filho,
presidente da OAS
Pena: 16 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de
corrupção ativa, lavagem de dinheiro e por participação de organização
criminosa
Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da
Área Internacional da OAS
Pena: 16 anos e quatro meses pelos crimes de corrupção
ativa, lavagem de dinheiro e por integrar por organização criminosa
Fernando Augusto Stremel Andrade, ex-funcionário da OAS
Pena: 4 anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro
José Ricardo Nogueira Breghirolli, ex-funcionário da OAS
tido como um dos intermediários entre a empresa e o doleiro Alberto Youssef
Pena: 11 anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro
e participação em organização criminosa
Matheus Coutinho de Sá Oliveira, ex-diretor financeiro da
OAS. Pelas denúncias, ele determinava o pagamento de propina aos envolvidos no
esquema
Pena: 11 anos de reclusão pelos crimes de lavagem de
dinheiro e por integrar organização criminosa
Dalton dos Santos Avancini, ex-presidente do Conselho de
Administração da Camargo Corrêa
Pena: 15 anos e 10 meses pelos crimes de lavagem de
dinheiro, corrupção e por pertencer à organização criminosa
Eduardo Hermelino Leite, conhecido como ?Leitoso?,
ex-vice-presidente da Camargo Corrêa
Pena: 15 anos e 10 meses pelos crimes de lavagem de
dinheiro, corrupção e por pertencer à organização criminosa
João Ricardo Auler, ex-diretor do Conselho de Administração
da Camargo Corrêa
Pena: 9 anos e 6 meses pelos crimes de corrupção e por
pertencer à organização criminosa
Júlio Gerin de Almeida Camargo, o Júlio Camargo,
ex-consultor da Toyo Setal. Ele foi responsável por denunciar o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ter pedido US$ 5 milhões para firmar
contratos de navios-sonda com a Petrobras
Pena: 14 anos pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de
capitais.
Fernando Antônio Falcão Soares, lobista conhecido como
Fernando Baiano, tido como operador do PMDB
Pena: 16 anos e 1 mês de prisão pelos crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro
Nestor Cerveró, ex-diretor da Àrea de Internacional da
Petrobras
Pena: 17 anos 3 três meses pelos crimes de corrupção passiva
e lavagem de dinheiro
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras
Pena: 26 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva,
lavagem de dinheiro, por integrar organização criminosa.
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Foto: Divulgação/Ajufe