Deputado de primeiro mandato, pastor de igreja evangélica no
Rio de Janeiro, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) é ferrenho
crítico do PT e da presidente afastada Dilma Rousseff. Ele acredita que Dilma
tem [zero chances] de voltar e que o processo de impeachment é fato consumado.
Na Câmara dos Deputados foi responsável por distribuir pão
com mortadela no plenário, em 31 de março, em uma provocação aos apoiadores da
presidente afastada que são acusados de receber o alimento em troca da
participação nas manifestações.
O deputado recebeu o Diário do Poder em seu gabinete, no
Anexo IV, para uma entrevista exclusiva. O parlamentar criticou o presidente
interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), falou sobre os bastidores para a
sucessão, preconceito religioso e as Olimpíadas no Rio, estado que o elegeu.
Confira:
O senhor acha que a
presidente afastada Dilma Rousseff volta ao poder?
Sem chance. Não tenho dúvidas de que lá (no Senado) vão ter,
no mínimo, 59 votos. Entre 59 e 60 (contra Dilma). Eu estive lá ontem
conversando com alguns senadores, como Magno Malta (PR-ES). O quadro é
irreversível. Mesmo que tudo dê errado no Governo Temer. Por exemplo, se tiver
algumas delações mais graves, a volta da Dilma é descartada. É impeachment
consumado daqui pra frente. Dilma é página virada.
Qual é a nova página
desse livro? O Cunha?
O Cunha eu acho que vai ter que ter os trâmites normais e
estão fazendo todos, mas também acho que o quadro dele é irreversível.
Lamentavelmente, no plenário não vejo muita chance. Acho que ele terá muito
menos votos do que ele precisa. É inevitável.
O que achou do voto
da deputada Tia Eron (PRB-BA) pela cassação de Cunha?
Não fiquei surpreso com o voto, mas sim como parte da mídia
tentou colocar ela como a única responsável pela cassação. Acho isso injusto
com ela e a história dela. Se ele fosse absolvido seriam 11 contra 10, e os
outros 10, quem são? Por que só ela? Acho que isso teve mais um viés de parte
de pessoas com preconceito religioso do que qualquer outro viés. E vale-se
dizer que às vezes fico muito assustado quando vejo parte da imprensa quando
algum deputado evangélico é pego com prática de corrupção ou algo ilícito sempre
se destaca “deputado evangélico”. Eu não vejo essa mesma prática com
deputados católicos, ateus, espíritas. E não há um corporativismo religioso
como alguns querem destacar, pois o relator que pediu a cassação de Cunha,
Marcos Rogério (DEM-RO), é da mesma igreja que ele.
E existe esse
preconceito religioso entre os deputados?
Eu acho que já diminuiu muito. Eu vivi a época em que o
evangelho era menos do que somos hoje. Já devemos passar de 30 da população
atualmente, mas ainda somos minoria. Quando eu era criança existia muito mais,
hoje bem menos, e isso reflete na Casa. Pode até que tenha um ou outro deputado
que queira se aproveitar disso, mas estamos suficiente amadurecidos para não se
deixar levar.
Os partidos estão se
unindo para tirar Waldir Maranhão (PP-MA) da presidência da Câmara? Quais os
mais cotados para assumir?
Lamentavelmente… Maranhão, com todo respeito, não me sinto
representado nem presidido por ele em nenhum momento. Não tem legitimidade. Sou
deputado de primeiro mandato, votei nele porque era uma chapa que eu conhecia a
capacidade regimental e política do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas não
conhecia a ausência de habilidade política de Maranhão. Confesso que votei
errado, mas não tem as mínimas condições de presidir essa Casa. Quando for
sacramentada a cassação de Cunha vamos ter que eleger novo presidente até o fim
do ano.
Quais nomes?
Ah.. Falam em Jovair Arantes (PTB-GO), Rogério Rosso
(PSD-DF)… O bom candidato é o que fala que não quer. Acho que por ser de
primeiro mandato, a Casa valoriza muito a experiência, então o Rosso, que está
no primeiro, tem desvantagem. Mas sem dúvida nenhuma PSDB, PMDB, DEM, que não
fazem parte do [centrão], estão buscando algum nome. Acho o Esperidião Amin
(PP-SC) um bom nome e não está fazendo campanha.
Como deputado do Rio
de Janeiro que é, qual sua expectativa sobre as Olimpíadas e as obras que ainda
não foram entregues?
Não acredito que todas as obras estarão ok. Algumas terão
dificuldades. A grande expectativa de todos é a linha 4 do metrô, que
anunciaram a inauguração para 1 de agosto, sendo que os jogos começam dia 5. Eu
tenho alguns questionamentos sobre o VLT, acho que aquilo é obra pra turista,
não pra quem mora no Rio. A velocidade, ao invés de trazer agilidade, vai levar
morosidade. Preciso ver a eficiência, porque ainda não me convence. Acho que a
Olimpíada vai funcionar bem, só tenho preocupação com a segurança em relação a
atentado e terrorismo, pois a grande massa mundial estará aqui. (Diário do
Poder)
FOTO: ZECA RIBEIRO/CÂMARA