A Operação Custo Brasil indica que o advogado Guilherme de
Salles Gonçalves, suposto repassador de propinas para o ex-ministro Paulo
Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma), bancou R$ 32
mil referentes a custos de um loft alugado em Brasília para uso da senadora
Gleisi Hoffmann durante a campanha de 2010.
Gonçalves, preso pela Polícia Federal domingo, 26, no
Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos/Cumbica, quando chegou de uma
viagem a Portugal, teria usado seu escritório em Curitiba para bancar despesas
de caráter eleitoral da petista.
Gleisi é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal.
Ela detém foro privilegiado perante a Corte.
Nesta segunda, 27, Gonçalves foi ouvido em audiência de
custódia pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal, que
deflagrou a Custo Brasil.
Além do advogado tiveram a prisão decretada outros dez alvos
da operação que investiga o esquema Consist, entre eles Paulo Bernardo.
O esquema Consist é um suposto desvio de R$ 100 milhões a
partir de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, na
gestão do marido de Gleisi.
Parte daquele montante, em torno de R$ 7 milhões, teria sido
repassada para o escritório de Gonçalves, ligado ao PT ? do escritório teria
saído a propina para Paulo Bernardo, no mesmo valor.
Em agosto de 2015, a Operação Pixuleco II, desdobramento da
Lava Jato, fez buscas no escritório e apreendeu documentos que indicam o elo de
Gonçalves e campanhas eleitorais do partido e de Gleisi em 2010.
Nesta segunda-feira, 27, após o depoimento de Gonçalves, a
defesa do ex-ministro pediu reconsideração da ordem de prisão preventiva. O
juiz federal assinalou que a audiência [não tem por objetivo produção de prova,
conforme esclarecido a todos os investigados].
Mesmo assim, o próprio Guilherme Gonçalves [decidiu falar
sobre uma série de questões referentes ao caso concreto, negando basicamente as
suspeitas e indícios que recaem sobre ele].
O juiz anotou que ainda não foram apresentadas provas
documentais, como, por exemplo, uma perícia que demonstraria que os valores da
Consist ficaram com o advogado.
[Contudo, o próprio investigado Guilherme, em dado momento,
parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para
[PB], que seria Paulo Bernardo], assinalou o juiz na ata da audiência de
custódia. [Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de
seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais.]
O juiz federal destacou. [Estamos diante, portanto, de um
fato que pode ter múltiplas interpretações, qual seja, o pagamento para Paulo
Bernardo retirado do Fundo Consist. A possível justificativa não retira do
fato, máxime quando aparentemente admitido pelo investigado Guilherme de Salles
Gonçalves, o seu caráter indiciário.Desta forma, os indícios, por enquanto,
subsistem.]
Na audiência, Gonçalves, espontaneamente, disse que teria
concordado com uma redução no valor de seus honorários. [Não caberia ao Juízo
formular perguntas nesta fase de audiência de custódia, porém não poderia
restringir a fala do investigado, máxime quando ele a considera útil à sua
defesa. Assim, posta essa premissa, a princípio, pareceu um pouco estranho ao
Juízo que o investigado estivesse prestando um serviço absolutamente regular e,
de inopino, concordasse com a redução dos valores, máxime quando os indícios
por ora demonstram que a redução dos valores se deu justamente por ocasião da
saída de Paulo Bernardo do Ministério do Planejamento.]
[Nem se diga que a versão de Guilherme de Salles Gonçalves
já confirma plenamente a de Paulo Bernardo. Cumpre notar que esta pode até ser
a conclusão após a instrução. Porém, ao menos por enquanto entendo que os
indícios de materialidade e autoria delitiva subsistem nos autos, bem como os
requisitos cautelares da prisão preventiva dantes mencionados], ressaltou o
juiz Paulo Bueno de Azevedo.
O magistrado anotou que Guilherme Gonçalves mencionou
encontro com Paulo Bernardo na Polícia Federal. ?As negativas dos fatos por
ambos é algo natural, diante dos indícios que apontam que eles atuaram
conjuntamente no alegado esquema.?
[Após o depoimento de Guilherme de Salles Gonçalves, não
vislumbro, ao menos por ora, razões para rever a decisão de manutenção da
prisão preventiva de Paulo Bernardo. Portanto, mantenho a prisão preventiva de
Paulo Bernardo, sem prejuízo de análise de eventual petição escrita a ser apresentada
pela defesa técnica], assinalou Azevedo.
O juiz pediu ao Ministério Público Federal manifestação
sobre os pedidos de revogação da prisão preventiva apresentados por escrito e
sobre os pedidos de desbloqueio de valores dos alvos da Operação Custo Brasil.
Defesa de Paulo
Bernardo
A defesa do ex-ministro, em nota, disse que [o depoimento de
Guilherme Gonçalves deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira
alguma dos valores que foram recebidos da Consist].
Íntegra da nota dos
advogados do ex-ministro do Planejamento
[O depoimento prestado pelo sr. Guilherme Gonçalves na data
de hoje deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos
valores que foram recebidos da Consist. Ficaram claras a origem dos pagamentos
recebidos pelo Sr. Guilherme Gonçalves e o destino por ele dado a esses
valores, sem qualquer envolvimento de Paulo Bernardo.
Com isso, ficou comprovado, de maneira ainda mais evidente,
que não há razões que justifiquem a prisão preventiva de Paulo Bernardo, já
que, além de ausentes os requisitos técnicos da medida extrema, também não há
qualquer indício de autoria com relação a ele.
O magistrado, após ouvir os esclarecimentos do Sr. Guilherme
Gonçalves, informou que analisará novamente se ainda vislumbra justificativa
para manter a prisão de Paulo Bernardo.]
Rodrigo Mudrovitsch, Juliano Breda e Verônica Sterman.
Defesa da senadora
Gleisi Hoffmann
Nesta segunda-feira, 27, a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR)
se manifestou da tribuna do plenário do Senado e criticou a ação da Polícia
Federal, que na quinta, 23, prendeu seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.
Relato da repórter Julia Lindner, do Estadão, mostra que a
petista classificou a prisão de Bernardo como [injusta, ilegal, sem fatos, sem
provas e sem processo], com o objetivo de humilhar sua família.
[Nem em pesadelos eu teria sido capaz de supor que estaria
aqui, nesta tribuna, para defender meu marido de uma prisão], declarou Gleisi,
com a voz embargada. [Mas aqui estou para apontar uma injustiça, sentindo na
própria pele o que aflige diariamente milhares de pessoas atingidas pelo abuso
do poder legal e policial. Aqui estou, serena e humilde, mas não humilhada],
continuou. Gleisi disse que a prisão foi um [despropósito], pois Bernardo não
apresentava risco de fuga e se colocou à disposição da Justiça diversas vezes
para esclarecer os fatos.
A senadora acusou a PF de cometer excessos com o intuito de
[espetacularizar] o processo. Na quinta-feira, 23, agentes da PF fizeram buscas
no apartamento funcional em que a petista mora com Paulo Bernardo, em Brasília.
O alvo foi exclusivamente o ex-ministro. A PF não apreendeu documentos da
senadora porque tal medida só poderia ser executada por ordem do Supremo
Tribunal Federal.
Ainda na tribuna do Senado, nesta segunda, 27, Gleisi disse
que a Justiça atua de maneira seletiva e promove [carnavais midiáticos contra alguns
políticos]. [A operação montada para a busca e apreensão em nossa casa e para a
prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros foram usados, força policial
armada, muitos carros. Para que isso, chamar atenção? Demonstração de força?
Humilhação? Gasto de dinheiro público desnecessário, é isso. Foi uma clara
tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma.] (AE).
Foto Estadão