Dilma tenta se descolar de fracasso da seleção

Um dia após a humilhante derrota do Brasil para a Alemanha, a
presidente Dilma Rousseff ajustou o discurso para neutralizar o ?efeito Copa?
sobre a campanha da reeleição. Com medo de que o mau humor com a seleção
respingue na campanha, a presidente e sua equipe tentam separar o ?joio do
trigo?, concentrando as energias na defesa da ?administração? do Mundial.

A ordem no Palácio do Planalto é ?virar a página? do que Dilma
definiu como ?pesadelo? e baixar o tom do mote ?Copa das Copas?, com o qual o
governo pretendia bater o bumbo na campanha. No lugar do ufanismo, entra agora
a retórica da ?volta por cima? e da capacidade de superação do brasileiro nas
adversidades, além da organização ?impecável? do evento.

A equipe da campanha dá como certo que Dilma será hostilizada na
final da Copa, no domingo, 13, quando a presidente entregará a taça ao campeão,
no Maracanã. Ministros e coordenadores da campanha petista acreditam que o
?efeito Copa? não dure até a eleição, em outubro. O temor, agora, é que o fim
antecipado da catarse coletiva alimente novos protestos, que podem ser
disseminados e atingir ?tudo o que está aí?, mirando em Dilma e na alta dos
preços ? e consequentemente nos índices de inflação ? por causa da Copa.

?Quem tentar transferir para o campo da política eleitoral uma
derrota no futebol dará um tiro no pé?, disse o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, que assistiu ao jogo do Brasil em Belo Horizonte. ?A
politização é simplesmente ridícula.? Para Cardozo, a goleada sofrida pelo
Brasil ?não muda em nada? o caráter da Copa, nem da segurança e da organização
do evento, ?que estão sendo aplaudidos pelo mundo inteiro?.

O chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho,
que na terça-feira, 08, admitiu a preocupação do governo com a possibilidade de
volta das ações violentas dos black blocs, nesta quarta-feira, 09, disse que ?o
desastre com a seleção brasileira não é o desastre com a Copa?. ?Precisamos
cuidar para que tudo continue dando certo.?

Na rede

A coordenação da campanha de Dilma identificou nas redes sociais
?perfis falsos? de apoiadores dos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo
Campos (PSB) associando a presidente ao vexame do Brasil diante da Alemanha,
para desconstruir a imagem de ?gerente? que a petista tenta apresentar. Vinte e
quatro horas antes do fracasso da seleção, Dilma deu estocadas nos adversários
e disse, em conversa com internautas, que a Copa era uma ?belezura?, para ?azar
dos urubus?.

?Do ponto de vista de organização, a Copa é um sucesso e isso é
inegável?, afirmou o ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. ?O
Brasil sofreu uma derrota absolutamente inesperada, que entristeceu todos nós,
e quem quiser fazer proselitismo político com isso terá de enfrentar o
julgamento do eleitor.?

Berzoini se reuniu nesta quarta-feira com o presidente do PT,
Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma. Mais tarde, Falcão conversou com
o jornalista Franklin Martins, responsável pelo monitoramento das redes
sociais. O governo e o comitê da campanha estão atônitos com o fiasco da
seleção e avaliam qual a melhor estratégia a seguir para blindar a presidente.

Uma possibilidade será apostar na agenda ?positiva? dos próximos
dias. Além de almoçar com chefes de Estado que estarão no Rio, no domingo, para
a final da Copa, Dilma vai receber 21 presidentes na próxima semana. O comitê
da campanha quer aproveitar esses eventos para mostrar a presidente como
?estadista?.

Palpite errado

Em conversa com o fundador da Amil Assistência Médica
Internacional, Edson Bueno, na tarde desta quarta-feira, Dilma não escondeu o
abatimento com a derrota da seleção. ?Mas ela foi para a guerra e é uma pessoa
muito forte?, disse Bueno. ?Ela falou para mim: ?Temos de ir em frente, temos
de motivar o País?.?

A expectativa de Dilma, segundo Bueno, era de que o Brasil
poderia enfrentar a Argentina na briga pelo terceiro lugar, o que não se concretizou
? horas depois, a equipe de Messi se classificou para a final. ?Nós discutimos
o seguinte: se for contra a Argentina, o negócio é ganhar de uns 4 a 0, porque
a gente pelo menos fica um pouco melhor?, afirmou o empresário. (Vera Rosa e
Tânia Monteiro/O Estado de S. Paulo/Agência Estado)

Tópicos