É a economia, estúpido! foi uma frase famosa cunhada
pelo estrategista de Bill Clinton na campanha americana de 1992, James
Carville. Naquele ano o presidente republicano George Bush (o pai) era
considerado imbatível, vindo de vitoriosa guerra no Golfo Pérsico. Carville
convenceu a campanha de Clinton a apontar para os problemas cotidianos da
população, cunhando a famosa frase. Deu certo e Clinton foi eleito.
Divulgada na terça-feira, a última pesquisa do Ibope,
que mostrou um quadro de estabilidade na corrida presidencial — Dilma com 38 ,
Aécio (22 ) e Campos (8 ) — talvez seja um indicativo aos estrategistas da oposição,
que vem insistindo em que há um ?mau humor? generalizado no Brasil ligado à
situação econômica, que, na verdade, ?NÃO é a economia, estúpido!?.
A despeito do desejo de mudança no modo de governar
(70 ) e da avaliação ruim do governo (33 de ruim/péssimo), a maioria dos
eleitores está relativamente otimista com sua vida pessoal. 79 se declaram ao
Ibope satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levam. Outros 43
consideram sua situação econômica pessoal ótima ou boa e a maioria (52 ) acredita
que ela vai melhorar em 2015.
O propalado ?mau humor? generalizado evapora quando a
pergunta é sobre o poder de compra nos últimos dois anos: 68 acham que este
melhorou ou ficou igual. Para um em cada dois eleitores a ?situação econômica
do Brasil atual? é apenas regular, mas para o ano que vem 75 acreditam que
estará melhor ou no mínimo igual.
Se a oposição insistir que tudo está ruim, pode dar com
os burros na água. Lutar contra o otimismo é batalha perdida. O momento
econômico é crítico porque não há crescimento. Transformar isto em teatro dos
horrores é outra coisa.
Se a situação financeira na vida privada é vista com
relativo otimismo, a visão sobre o que acontece na área pública, aí sim, aponta
para um profundo mau humor. Os principais serviços públicos, como saúde,
segurança e educação são todos mal avaliados. Tendo em vista os últimos dois
anos, 61 acham que houve piora na saúde, 53 na segurança e 45 na educação.
Munidos de pesquisas quantitativas e qualitativas,
traduzidas em linguagem publicitária, as campanhas irão à TV a partir de 19 de
agosto em busca deste eleitorado. Dilma tem contra si a avaliação ruim de
governo; Aécio e Campos, a baixa inserção no eleitorado de menor renda (que é
quem decide a eleição). Todos vão querer capturar este difuso desejo por
mudança. Todos vão lidar com o otimismo e o pessimismo, tentando tirar para si
as vantagens possíveis da ambiguidade.
Este quadro me lembrou a situação da Inglaterra depois
da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O herói de guerra inglês, o
primeiro-ministro Winston Churchill, do partido conservador, disputou, após o
fim do conflito, uma eleição com os trabalhistas, da oposição. Tendo a difícil
missão de enfrentar um inconteste herói de guerra, que derrotara Hitler mas
dirigia um país em frangalhos econômicos e exausto da retórica bélica, os
trabalhistas saíram-se com o seguinte mote: aplaudam Churchill, mas votem nos
trabalhistas. Funcionou. O conservador perdeu, a Guerra virou história e a vida
seguiu seu rumo.
Não temos nenhum Churchill por aqui, nem tampouco heróis
de guerra nem guerra, a não ser a batalha do dia a dia. Mas fica a lembrança de
que, diante de situações complexas, a estratégia política é fundamental. Logo
mais veremos na TV como vão agir nossos candidatos, se como raposas, leões ou
ambos. (Blog do Rogério Jordão)