Sondado para o Ministério da Justiça em um eventual governo
Bolsonaro, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres
Britto afirmou que não aceitaria o cargo.
Em entrevista à Folha, o jurista disse não ter [condições
psicológicas] para ocupar novamente um cargo público [ortodoxo].
[Eu recebi há dias um telefonema de um amigo que me disse
ser muito próximo do general Hamilton Mourão e que os dois, conversando,
ventilaram meu nome como algo desejável. E eu dei a mesma resposta que dei ao
presidente Michel Temer, um amigo meu de tantos anos. Quando o presidente me
convidou para o cargo, eu agradeci, mas disse a ele que infelizmente não
aceitaria. Eu saí do Supremo com a cabeça de juiz e só sei ver as coisas por um
prisma suprapartidário], declarou.
Ele classificou como [sombria] a atual situação do país, mas
afirmou crer que a democracia está blindada de qualquer eventual tentativa de
[liquidá-la].
[A gente tem a clara impressão de que cada corrente
majoritária vê a outra como signo não de um projeto de governo, mas de poder.
Projeto de poder é de conteúdo secreto. Não diz para o grande público o que
quer fazer quando chegar ao poder e quer chegar ao poder para ficar nele por
muito mais do que quatro anos. Agora, juridicamente, o quadro é mais alentador.
A Constituição dispõe de antídotos contra projetos de poder. A democracia se
blinda eficazmente de qualquer tentativa de desnaturá-la e, mais ainda, de
liquidá-la], declarou Ayres Britto.
O ministro ainda disse que a proposta de convocação de uma
Assembleia Constituinte no momento é [flertar com o abismo].
[Quando se convoca uma Assembleia Constituinte? Quando a
Constituição em vigor já deu o que tinha de dar e está com o pé na cova.
[Quando] As instituições nascidas à luz dessa Constituição entraram em colapso
cardíaco e padecem de falência jurídica múltipla. É esse o pressuposto
psicossocial e político da convocação de uma Assembleia Constituinte. Agora,
isso não existe, a atual Constituição fez 30 anos agora, é muito nova e está na
plenitude de seu vigor], defendeu. (bahia.ba).
Foto: José Cruz / Agência Brasil