Bolsonaro se viu obrigado a ir à Câmara após recusa de Maia em receber Paulo Guedes

A presença do presidente Jair Bolsonaro no
Congresso nesta quarta-feira (20) para entregar o projeto de reforma dos
militares não era garantida até por volta das 16h. Mas ele decidiu ir pessoalmente
ao encontro do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
para não correr o risco de sua equipe econômica dar de cara com a porta.

No início da tarde, Maia ligou para o ministro da
Economia, Paulo
Guedes
, e pediu a ele que entregasse a proposta na seção de protocolo
da Câmara e disse que não o receberia no gabinete da Presidência da Casa, como
estava previsto até então.

Isso ocorreu após uma conversa com aliados que o alertaram
sobre os desgastes gerados com as negociações da proposta
de emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência
, fruto de
incertezas do governo, mas que já começaram a respingar no presidente da
Câmara. Como principal fiador do texto na Câmara, Rodrigo Maia tem se
ressentido, segundo deputados próximos, de ser alvo de ataques.

Poucos minutos após a ligação para Guedes, Bolsonaro
resolveu ir à Câmara. Desceu na chapelaria do Congresso, subiu as escadas em
direção ao Salão Verde e seguiu pelo corredor que dá acesso ao gabinete da
Presidência da Câmara.

Maia não mudou o humor após as 16h. Deixou o encontro com
Jair Bolsonaro, onde recebeu das mãos do próprio presidente o projeto e passou
direto para o plenário da Casa para dar continuidade à sessão ordinária. Deu
bronca em assessores que lotavam o local onde só deputados podem transitar. E
deixou, por volta das 17h15, a Casa rumo ao Ministério da Economia.

Peça fundamental

Maia assumiu a frente das negociações pela PEC desde o
início e é peça fundamental para o governo. Tentou acelerar a tramitação na
Câmara, com uma rápida instalação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ),
mas teve as intenções brecadas por líderes partidários, insatisfeitos com o não
envio do trecho que trata dos militares ? a parte que chegou nesta quarta. Ele
conseguiu acordar que, após a chegada desse projeto, os trabalhos no colegiado
começariam a andar.

O presidente da Câmara trabalhou nos bastidores para
conseguiu colocar na relatoria um nome de consenso com o governo e, ao mesmo
tempo, experiente para assumir a função. Com tantos desgastes, porém, decidiu
lavar as mãos e deixar com o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR) o
resto das conversas. Ele, inclusive, vai atrasar em mais um dia o anúncio, que
ficou para esta quinta (21).

Sobram reclamações

A base aliada está insatisfeita com o governo e leva
reclamações constantes a Rodrigo Maia, especialmente sobre cargos. O decreto
com normas para nomeações, editado na segunda (18), não amenizou o clima. E
Maia mais uma vez foi a voz que intercedeu.

Os deputados reclamam que os cargos que ?sobraram? são
?insignificantes?. Após ter nomes vetados, têm devolvido ao Palácio do Planalto
listas vazias.

“A base está deflagrada. Nem mesmo o PSL vai votar essa
reforma”, afirma um deputado do MDB.

“O presidente oferece cargos, num gesto de política dos
velhos tempos, mas publicamente diz outra coisa. Está nos ridicularizando”,
afirmou outro congressista da base, desta vez do partido do próprio Jair
Bolsonaro, o PSL. (Débora Álvares– Congresso em Foco).

Foto: Carolina Antunes/Ag. Câmara 

 

 

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