Sessão relembra massacre de Eldorado dos Carajás

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) recebeu, na manhã desta quarta-feira (17), centenas de trabalhadores sem-terra para lembrar a passagem dos 23 anos do episódio que ficou conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás. No dia 17 de abril de 1996, 21 trabalhadores foram mortos por policiais militares do Pará. Até hoje, como lembraram os oradores no evento, nenhum PM foi punido pelos assassinatos. 
Proposto pelo deputado Jacó (PT), o ato também foi uma homenagem aos 35 anos de fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Auditório Jornalista Jorge Calmon, localizado no anexo novo da ALBA e com capacidade para cerca de 300 pessoas, ficou completamente lotado durante o encontro. Cerca de 2,5 mil trabalhadores saíram em marcha de Camaçari ao CAB para participar do ato.
Apesar de presença maciça dos sem-terra, o ato teve também a presença de lideranças de outros movimentos sociais, como o Levante Popular da Juventude, de estudantes, de parlamentares e de outros dirigentes políticos,  a exemplo da secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis. 
“Essa foi um ato importantíssimo, com um simbolismo político muito grande e cumpriu o seu papel porque nós debatemos a questão da terra e a perseguição e o extermínio das lideranças sociais”, afirmou Jacó. “Nós não podemos aceitar com normalidade que as lideranças dos movimentos sociais sejam perseguidas,  intimidadas, assassinadas e nada aconteça. E também não podemos deixar de denunciar a falta de uma reforma agraria popular no nosso país”, afirmou Jacó.
O ato foi aberto com um manifesto do MST lido pela dirigente nacional do movimento na Bahia, Liu Durães. Além de lembrar  “os 23 anos de impunidade? do Massacre de Eldorado”, o texto citou também as vítimas dos rompimentos das barragens da Vale, em Mariana e Brumadinho, as execuções da  vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes e os ataques ?do agronegócio, com o apoio do Governo Federal, aos indígenas e aos povos quilombolas?.  Sob forte aplauso dos trabalhadores, Liu seguiu afirmando que a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou de completar um ano,  “desrespeita a Constituição Federal e a vontade de nosso povo”.
Segundo o manifesto lido pela liderança sem-terra, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) acabou com todas as políticas de fortalecimento da agricultura familiar no Brasil. Hoje, de acordo com o texto, existem cerca de 100 famílias sem-terra em acampamentos do MST e outras cerca de 800 mil já assentadas, mas à margem de qualquer política pública implementada pelo atual Governo Federal. Liu Durães concluiu sua leitura afirmando que o movimento continuará lutando para fortalecer a reforma agrária, a agroecologia e a agricultura familiar.
Durante o ato, ocorreu uma encenação das mortes dos 21 trabalhadores no Pará. ?Mataram mais um irmão sem nenhuma explicação?, diziam em coro os jovens sem-terra enquanto colocavam cruzes nos colegas estendidos no palco do auditório e representando as vítimas do massacre. Logo depois, a deputada Olívia Santana afirmou que a política de esquerda não sufoca, porque ela é libertária. ?É a política que não permite que nossos mortos sejam esquecidos?. Para Olívia, o que está acontecendo no Brasil hoje exige a luta política. ?Precisamos resistir no nosso ideário porque ele é essencialmente libertário?, reforçou.
O deputado Hilton Coelho (PSOL) também criticou o ?manto de impunidade? que existe hoje no Brasil. ?O governo Bolsonaro naturalizou a impunidade?, afirmou  Hilton. 
Já o presidente estadual do Partido dos Trabalhadores, Everaldo Anunciação, começou o seu discurso pedindo “um bom-dia para o presidente Lula que está injustamente preso”. E, em nome do seu partido, agradeceu o “sacrifício desobrigado de todos os trabalhadores sem-terra que vieram em marcha de Camaçari para construir um país mais justo e digno”. 
Everaldo também afirmou a importância da reforma agrária para o avanço do país e fez referência ao deputado Valmir Assunção, liderança popular egressa da luta pela reforma agrária como expoente da luta por Lula Livre em Brasília. Muitos presentes  no evento também criticaram “o desmonte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)”.
Foto: JulianaAndrade/AgênciaALBA

Tópicos