“Omolu, Ogum,
Oxumaré. Todo pessoal. Manda descer pra ver Filhos de Gandhi”. Embalados pela
música de Gilberto Gil, o tapete branco ocupou o plenário da Assembleia
Legislativa da Bahia, na manhã de sexta-feira (26) para celebrar, em sessão
especial a proposta da deputada Olívia Santana (PC do B), os 70 anos do Bloco
de Afoxé Filhos de Gandhy.
Com a
participação de políticos, representantes do Judiciário, do Executivo, da
Polícia Militar, religiosos, professores, de cantores e compositores, o
presidente da ALBA, deputado Nelson Leal (PP), declarou que a ideia do bloco de
afoxé continua atual, porque “agora, mais que nunca, precisamos de paz”. Nelson
Leal justificou a sua frase com a atual a crise política, econômica e
ética “inflada diariamente por fatos absurdos”. Ao tratar sobre a beleza da
Bahia, o presidente citou o Gandhy como uma das tradições mais belas do estado. “É impossível dissociar o bloco da Bahia”. Na oportunidade, ele elogiou o
trabalho da deputada Olívia Santana e estendeu a sua admiração aos novos
parlamentares “que estão orgulhando a Casa”, a exemplo do deputado Zó (PC do
B), que prestigiou a sessão.
HISTÓRIA
Em seu
discurso, a comunista Olívia Santana lembrou da origem do bloco, o mais antigo
afoxé da Bahia. “Em 18 de fevereiro de 1949, um ano após a morte de Mahatma
Gandhi, estivadores de Salvador, preocupados com a falta de trabalho, com a
recessão, com a política de arrocho salarial, com a intervenção do Governo
Federal nos sindicatos, e sem dinheiro para sair com o bloco “Comendo Coentro”,
resolveram sair com um cordão, roupas feitas de lençóis e instrumentos musicais
fabricados artesanalmente”, contou, enaltecendo ainda a figura de Durval
Marques da Silva, o Vavá Madeira, idealizador do bloco, da homenagem ao líder
da paz e da troca do nome de Gandhi com “i” por “y” para evitar represálias
políticas.
A parlamentar
destacou a “coincidência infeliz” do atual momento político com o momento no
qual o bloco surgiu. Para Olívia, o presidente Jair Bolsonaro não tem apreço
pela cultura nacional e não se identifica com a diversidade do povo brasileiro.
Ao concluir a
sua fala, ela afirmou que o bloco de afoxé constrói uma narrativa bela de autoafirmação
cultural e política. “Sem a presença dos blocos afros, e entre eles o Gandhy, o
Carnaval de Salvador não teria a menor graça. Que a mensagem do afoxé seja
sempre de paz, convivência, justiça social e contra a intolerância
religiosa”.
REPRESENTAÇÃO
O presidente
do bloco, Gilvoney de Oliveira, declarou estar se sentindo em casa com tantas
pessoas que estão ao lado do Gandhy em situações difíceis. Oliveira destacou a
resistência do afoxé perante as inúmeras crises vividas ao longo dos anos,
deixando inclusive de desfilar no Carnaval de Salvador por 2 anos na década de
70.
Gilvoney
falou da importância de músicos como Gilberto Gil e Tonho Matéria, que
escreverem tão bem sobre o bloco e levar o nome do afoxé a todos os cantos do
Brasil e do mundo. E relatou a experiência de comandar um bloco que “hipnotiza
a população” com as cores de Oxalá e de Ogum e perfuma a avenida com a sua
tradicional alfazema por onde passa.
A secretária
de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, definiu como uma ?experiência
sensorial? assistir o Gandhy passar no Carnaval de Salvador, por estimular a
visão, olfato e audição.”É uma história de construção de resistência e de
religiosidade. Uma narrativa que propõe conhecimento, uma capacidade
intelectual que sustenta a mensagem de paz. O Gandhy é luta, beleza e poesia”,
disse.
Na sessão,
figuras importantes para o bloco foram homenageadas como Antônio do Caixão, o
mais antigo filiado, e a artesã Crispina Raimunda, responsável pela confecção
dos turbantes.
Ao receber a
homenagem, Adelson dos Prazeres, representando Antônio do Caixão, declarou que
o “o Gandhy é a joia rara do Brasil, quiçá do mundo”.
Gilvoney de
Oliveira também recebeu em nome do bloco uma placa de reconhecimento da cultura
baiana.
Foto: NeuzaMenezes/AgênciaALBA