Está difícil fazer qualquer afirmação nesta campanha eleitoral que
não termine com um ponto de interrogação. Um mês atrás a pergunta era se o
tucano desistiria da corrida eleitoral; agora é se este vai encarnar o desejo
de mudança expresso pelo eleitorado, desejo este distribuído (até aqui) de
forma ambígua entre os candidatos. Caso o mineiro |encarne| esta mudança, será
difícil tirar-lhe o favoritismo. Não à toa desde os primeiros pronunciamentos
pós-urnas, Aécio busca colar em si a marca do mudancismo, referindo-se ao
|amigo| Eduardo Campos, repetindo a frase |Não vamos desistir do Brasil|,
insistindo que sua candidatura já não é a de um |partido| mas a de um
?sentimento? e tudo o mais.
Aécio dá
a largada no segundo turno como o vitorioso do momento. Sua trajetória é
ascendente e seu desempenho nas urnas (acima do esperado) foi a |surpresa| do
primeiro turno. Daqui para frente, seguindo a tradição brasileira, choverão
adesões.
Mais do
que isso. O PT sofreu um baque eleitoral cujas dimensões serão medidas nos
próximos anos. O partido perdeu em São Paulo, perdeu em Pernambuco (onde não
elegeu sequer um deputado federal, apesar da votação expressiva de Dilma),
perdeu em São Bernardo (seu berço e cidade simbólica), teve sua bancada na
Câmara reduzida de 88 para 70 deputados. Com ou sem Dilma, enfim, o PT ? e o
que se pode chamar esquerda em geral ? sofreu um revés político em 2014.
Acresça-se a isto, a redução de bancadas de deputados ligados a movimentos
sociais e sindicatos, e se tem um quadro político ruim para o petismo.
Isto não
significa, é claro, que eleitoralmente as coisas não possam mudar nas próximas
semanas, particularmente com a retomada da campanha na TV. A marca das eleições
2014 tem sido desde o início a imprevisibilidade. Mas o tempo encurta. A
derrota política do PT pode não significar necessariamente uma derrota
eleitoral de Dilma ? lembrando que, assim como fez Lula no passado, a candidata
buscou na TV desvencilhar sua imagem da do partido. Quando apareceu na tela no
primeiro turno, a estrela parecia mais uma referência abstrata do que o símbolo
de algo. Será esta a toada no segundo turno?
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Blog do Rogério Jordão
Foto: Agencia Estado