Publicadas no Diário Oficial da União desta terça-feira (28)
as nomeações de André Luiz de Almeida Mendonça, para o cargo de ministro da
Justiça e Segurança Pública; e de Alexandre Ramagem Rodrigues, para
diretor-geral da Polícia Federal (PF), são questionadas por parte dos senadores
não pelos currículos, mas por terem sido recebidas como sinais de uma possível
interferência do presidente da República Jair Bolsonaro em investigações.
André Mendonça, que até esta segunda-feira (27) ocupava o
cargo de advogado-geral da União, substitui Sergio Moro e, Alexandre Ramagem,
que exercia o cargo de diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin),
entra no lugar antes ocupado pelo delegado Maurício Valeixo. A mudança no
comando da Polícia Federal foi o estopim para a saída de Moro do Ministério da
Justiça. O ex-ministro anunciou a demissão do cargo na sexta-feira (24)
afirmando que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF
ao decidir demitir Mauricio Valeixo.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou em seu
Twitter que os novos nomes indicados pelo presidente são tecnicamente aptos
para os cargos, mas questiona as motivações da mudança no comando da Polícia
Federal.
“Por que Bolsonaro atua contra a autonomia da PF? O que teme
contra ele, sua família e seus aliados políticos? Ramagem e o novo ministro
André Mendonça, atendem o currículo exigido para os cargos, mas importa saber o
que suas indicações atendem, pessoalmente, ao presidente. É inadmissível
Bolsonaro tentar transformar a PF em uma Polícia Política. Esperamos que a
justiça apure suas interferências e motivações e toda e qualquer prova será
mais um motivo para que nosso pedido de impeachment seja aceito pelo presidente
da Câmara Rodrigo Maia”, disse o senador.
A posição de Randolfe é compartilhada pelos senadores
Alessandro Viera (Cidadania-SE) e Humberto Costa (PT-PE). Alessandro também
ressaltou o currículo dos nomeados, mas aponta uma possível tentativa de abafar
investigações em curso.
“André Mendonça e Alexandre Ramagem possuem currículo
compatível com os cargos que assumem. O problema não está nos nomes, mas na
suposta missão recebida: abafar investigações sobre o Centrão e os filhos do
presidente da República e perseguir inimigos. Lembre: quem teme polícia
independente é bandido”, assinalou.
Para Humberto Costa não restam dúvidas de que Bolsonaro
tenta blindar sua família contra investigações. Ele disse torcer para que a
Polícia Federal reaja à tentativa de interferência.
“E, assim, Jair Bolsonaro vai se apropriando das
instituições, submetendo-as ao seu controle e usando-as como se fossem suas e
da família. É esperar que a Polícia Federal reaja e exponha toda a bandidagem
que a tenta sufocar”, escreveu.
Já Soraya Thronicke (PSL-MS) e Marcos Rogério (DEM-RO)
ressaltaram o histórico profissional dos novos chefes do Ministério da Justiça
e da Polícia Federal.
“André Mendonça é muito competente e tem um excelente
currículo”, destacou a senadora,
Da mesma forma, Marcos Rogério afirmou que o novo chefe da
pasta reúne os atributos necessários para comandá-la.
“Excelente escolha. André Mendonça é um nome extremamente
técnico e espero que se confirme à frente do Ministério da Justiça”, ressaltou
o senador.
O senador Major Olimpio (PSL-SP), por sua vez, desejou sorte
e sucesso ao novo ministro e disse desconhecer a existência de pressão por
parte da bancada ligada à Segurança Pública pelo desmembramento da pasta em
duas.
?Não participei ou tomei conhecimento de reunião da Frente
Parlamentar de Segurança Pública, ou de parlamentares, em que se decidisse
propor ou impor ao presidente a recriação de Ministério da Segurança Pública,
ou mesmo se concordamos ou não com a escolha de novo ministro. Desejo sucesso e
sorte ao novo ministro. Não é hora de criar mais confusão do que já existe?,
escreveu o senador em sua conta em uma rede social.
O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) também desejou sucesso
para Mendonça e Ramagem.
?Meus votos de sucesso ao novo ministro da Justiça, André
Mendonça. Que Deus dê força e sabedoria neste grande desafio. Ao também
recém-nomeado diretor-geral da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, desejo uma
gestão equilibrada e exitosa. O Brasil não pode parar?.
Currículos
Formado em Direito, André Mendonça é doutor em estado de
direito e governança global e mestre em estratégias anticorrupção e políticas
de integridade pela Universidade de Salamanca, na Espanha; também é
pós-graduado em direito público pela Universidade de Brasília.
Antes de assumir o cargo de ministro da Advocacia-Geral da
União (AGU), Mendonça atuou como corregedor-geral do órgão, entre 2016 e 2018.
É advogado da União desde 2000.
Delegado da Polícia Federal desde 2005, Ramagem é graduado
em direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Entre
outros cargos, ele chefiou a Unidade de Repressão a Crimes contra a Pessoa e a
Divisão de Administração de Recursos Humanos.
Em 2018, Ramagem foi segurança de Bolsonaro durante a
campanha eleitoral. Foi nomeado para a Abin em julho de 2019. (Agência Senado)
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado