“Uma análise teológica sobre sua origem, finalidade e validade na prática cristã atual”
Por Itamar Ribeiro*
“Entre fé, tradição e debate, o dízimo permanece como um dos temas mais discutidos no universo religioso.”
A discussão sobre o dízimo atravessa séculos e ainda hoje desperta controvérsias no meio religioso. No Antigo Testamento, o dízimo é apresentado como uma exigência da Lei Mosaica — “dar um décimo de todos os rendimentos anuais para Deus”. Isso significava separar 10% da renda bruta, fosse ela proveniente de colheitas, rebanhos ou ganhos pessoais, para sustentar a estrutura religiosa e suas atividades.
Antes mesmo da formalização da Lei, a prática já era vista em figuras como Abraão (Gênesis 14:20) e Jacó (Gênesis 28:22). O objetivo principal era assegurar o sustento dos levitas — a tribo separada para o serviço sacerdotal e que não possuía terra própria. Assim, as demais tribos contribuíam com parte de sua produção para manter o culto, abastecer os depósitos do templo e garantir o funcionamento do santuário.
A instituição do dízimo para os israelitas é claramente estabelecida em Números 18:21-28. Já o profeta Malaquias (3:10) dirige uma severa advertência ao povo por reter os dízimos, convocando-os a trazê-los “à casa do tesouro”, reforçando a importância da manutenção do Templo.
Quando avançamos para o período pós-Jesus, a análise teológica torna-se mais complexa. Muitos afirmam que o dízimo não foi abolido, pois o próprio Cristo declara que veio “cumprir a lei e não aboli-la” (Mateus 5:17). Em Mateus 23:23, Ele critica a hipocrisia farisaica, mas não condena o ato de dizimar; pelo contrário, destaca a necessidade de equilibrá-lo com justiça e misericórdia. Ainda assim, há quem interprete que, ao cumprir a Lei, Cristo encerra o dízimo como mandamento obrigatório.
Outro questionamento recorrente é: para que serve o dinheiro do dízimo?
Sua destinação tradicional inclui a manutenção da igreja, atividades pastorais e missionárias, evangelização, assistência social, obras de caridade, educação cristã, impressão de materiais religiosos e a prebenda pastoral — o sustento digno dos que dedicam sua vida ao ministério. Além disso, a boa gestão e a transparência são princípios essenciais para que a comunidade confie na aplicação dos recursos.
No Novo Testamento, embora a doutrina do dízimo não seja apresentada de forma normativa, permanece o entendimento de que a obra de Deus deve ser sustentada pelos fiéis. O apóstolo Paulo reconhece o direito daqueles que anunciam o Evangelho de viverem do próprio Evangelho, embora ele, pessoalmente, tenha escolhido trabalhar para não ser um peso às igrejas. Nesse contexto, a contribuição assume o caráter de generosidade, gratidão e compromisso com a expansão da fé cristã.
Atualmente, o dízimo continua sendo tema de intenso debate entre denominações. Algumas defendem que sua obrigatoriedade foi encerrada em Cristo; outras o consideram um princípio permanente de fidelidade e reconhecimento a Deus. Apesar das divergências, há consenso de que a contribuição deve ser voluntária, alegre e baseada nos ensinamentos bíblicos.
Diante disso, cabe ao cristão buscar a orientação das Escrituras, compreender sua origem e finalidade, e refletir sobre sua responsabilidade diante da obra de Deus. O dízimo, seja visto como mandamento ou princípio, permanece como instrumento de fé, compromisso e serviço à comunidade.
Itamar Ribeiro – Teólogo

