O pedido de demissão de Sérgio Barradas Carneiro do cargo de secretário de Mobilidade Urbana de Feira de Santana, no fim de outubro, expôs um novo momento de crise na gestão do prefeito José Ronaldo de Carvalho (União Brasil). A saída ocorreu após a forte repercussão da portaria que tornou pública uma lista com cerca de 600 pessoas vivendo com HIV/AIDS, que perderiam o direito ao passe livre no transporte urbano.
Segundo fontes ouvidas pelo Portal M!, a decisão de Carneiro foi motivada não apenas pela polêmica em torno do episódio, mas pela sensação de ter sido deixado sozinho em meio ao desgaste político e jurídico. O caso, que ganhou dimensão nacional, revelou falhas na condução administrativa e omissão de setores estratégicos do governo municipal. O Portal M! demorou a publicar esta reportagem porque buscou apurar com rigor o que ocorreu nos bastidores da crise.
Portaria legal, mas gestão falha na prevenção política e institucional
De acordo com levantamento feito pelo Portal M!, a crise começou no momento em que a portaria que revogava o benefício do passe livre foi publicada com os nomes dos beneficiários expostos. Embora a medida tenha base legal e não configure, tecnicamente, erro administrativo conforme entendimentos recentes da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, o caso exigia prudência política e sensibilidade institucional — o que, segundo fontes próximas, não aconteceu. Além disso, houve falha na condução feita pela Procuradoria Geral do Município (PGM), responsável pelo assessoramento jurídico da gestão.
Ainda que a portaria tenha sido assinada pelo então secretário Sérgio Carneiro, fontes ouvidas pelo Portal M! afirmam que a Prefeitura de Feira de Santana ignorou responsabilidades coletivas e deixou o desgaste recair sobre um único agente. A avaliação é que órgãos internos, especialmente a Procuradoria-Geral do Município (PGM), falharam em exercer o controle de legalidade e revisar o conteúdo antes da publicação oficial.
PGM falhou em revisar portaria e expôs fragilidade do controle jurídico
Apuração feita pelo Portal M! mostra que a PGM, que tem como procurador Antônio Augusto Graça Leal, responsável por garantir a legalidade dos atos da administração pública, acompanhou e teve ciência do texto que resultou na exposição dos nomes. Mesmo assim, o órgão não atuou para impedir a publicação, tampouco orientou a gestão a optar por um caminho menos arriscado politicamente.
Fontes destacam que a PGM tem a função de orientar juridicamente todos os órgãos e secretarias da prefeitura, o que não foi feito neste caso. A ausência de revisão e a falta de parecer jurídico preventivo permitiram que o ato fosse publicado sem filtros de segurança.
“A Procuradoria existe para garantir o cumprimento da lei e evitar que erros de interpretação causem prejuízo à imagem da administração”, sintetizou a crítica uma das fontes ouvidas pelo Portal M!.
A partir desse episódio, interlocutores avaliam que José Ronaldo ignorou a natureza coletiva da gestão pública e permitiu que a responsabilidade recaísse exclusivamente sobre quem assinou o documento, mesmo havendo outros setores envolvidos diretamente no processo.
Falta de reação da Secom agravou crise nas redes sociais
Além das falhas jurídicas, a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) também é apontada por não reagir com a agilidade necessária à repercussão do caso. Fontes ouvidas pelo Portal M! afirmam que a pasta não fez movimentos conter a “avalanche” digital impulsionada por perfis automatizados, páginas políticas e influenciadores locais, que ampliaram o desgaste do governo e do então secretário nas redes sociais.
A ausência de uma estratégia de enfrentamento da crise, segundo fontes ouvidas pelo Portal M!, deixou a narrativa ser dominada por versões parciais, sem explicações sobre a base legal da portaria ou a atuação interna da Prefeitura. O silêncio da Comunicação acabou reforçando a ideia de omissão e isolou ainda mais o então secretário.
Bastidores apontam disputas internas e isolamento político
Nos bastidores, apuração feita pelo Portal M! revelou conflitos internos entre secretarias e o procurador municipal. Alguns desses agentes teriam articulado a criação de uma sindicância que, na prática, serviu para prolongar o desgaste e isolar Sérgio Carneiro. A manobra permitiu que o prefeito se afastasse da crise sem precisar exonerar diretamente o auxiliar. “Enquanto um assumia a responsabilidade, outros se acovardavam”, resumiu um dos interlocutores próximos ao caso.
Para aliados, a sindicância foi uma saída conveniente para o governo, já que deslocou a pressão pública para uma comissão interna e manteve o prefeito distante de um ato direto de demissão.
Comparações com Colbert e críticas ao estilo de José Ronaldo
A forma como a crise foi conduzida também gerou comparações com a gestão anterior, do ex-prefeito Colbert Martins (MDB), que mesmo em situações de desgaste preferia manter auxiliares até que houvesse definição jurídica. Segundo fontes ouvidas pelo Portal M!, José Ronaldo, com toda a experiência acumulada, “cruzou os braços” e assistiu ao desgaste de camarote.
Nos bastidores políticos de Feira de Santana, há quem diga que parte da população e até membros da base aliada já começam a reconhecer avanços de Colbert diante do cenário atual. A avaliação é que, ao não proteger um quadro técnico e experiente, José Ronaldo acabou alimentando divisões internas e transmitindo a imagem de inércia administrativa.
A apuração indica ainda que a demissão de Sérgio Carneiro, embora formalmente voluntária, ficou na conta do prefeito, que perdeu um colaborador de perfil técnico e histórico de contribuição à cidade. O episódio reforça a percepção de desgaste dentro da gestão e levanta dúvidas sobre a capacidade de articulação política do atual governo. (Muita Informação).
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