A área técnica concluiu “hoje” os trabalhos para estudar os cenários possíveis e desenhar um plano de contingência ao tarifaço de Donald Trump, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta quarta-feira (23).
Os detalhes devem ser apresentados ao chefe da equipe econômica na quinta-feira (24) e encaminhados ao Palácio do Planalto na semana que vem.
Segundo o ministro, a Fazenda tem trabalhado no desenho de cenários para que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “tome a melhor decisão”.
“Vai chegar a vez do Brasil, e tem que estar preparado, para quando chegar a vez de sentar à mesa, […] para ter um debate técnico”, enfatizou Haddad.
Sobre o trâmite, antes de chegar ao Planalto, o chefe da equipe econômica explicou que os estudos devem passar pelas mãos e receber o crivo do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), que vem liderando a coordenação da resposta brasileira ao tarifaço.
No fim, “a decisão é dele [Lula]”, indicou o ministro da Fazenda, ressaltando que Lula ainda deve ouvir o Itamaraty para entender como andam os contatos com a contraparte norte-americana.
Em meio à dificuldade do governo federal em encontrar interlocutores do lado norte-americano, Haddad indicou que o Executivo tem tido diálogos com a equipe técnica e secretários da Casa Branca.
“Estamos fazendo tentativas de contato reiteradas, mas há uma concentração de informações na Casa Branca. Alckmin está tendo contato com secretários. No nosso caso da Fazenda, temos contato com a equipe técnica do Tesouro americano, mas não com o secretário”, disse na portaria do Ministério.
O chefe da equipe econômica reforçou que o governo nunca deixou a mesa de negociação e que “a informação que chega é que o Brasil tem um ponto”.
Até o momento, não estava claro qual era o canal de comunicação nem a que nível da hierarquia norte-americana o Brasil tinha acesso durante as negociações.
Na última segunda-feira (21), o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que o Brasil negocia com os EUA por “canais institucionais e de forma reservada”, sem especificar quais eram esses pontos de diálogo.
Contudo, Haddad indicou que ainda há uma falta de compreensão por parte da gestão Lula “em entender qual vai ser o movimento de lá”.
Prazo curto
O deadline até a tarifa de 50% dos Estados Unidos contra o Brasil entrar em vigor é o dia 1º de agosto. Haddad vê no horizonte “um problema de uma escala considerável”, mas, olhando para o noticiário dos últimos dias, acredita em alguma esperança para o país.
“Nós tivemos boas surpresas em relação aos outros países nos últimos dias, […] podemos chegar à data de 1º [de agosto] com algum aceno de possibilidade de acordo”, exclamou o ministro, em referência aos acordos assinados pelos EUA com Japão, Indonésia, Filipinas e Vietnã.
Haddad apontou que “têm algumas coisas acontecendo”, contudo que “precisam de duas partes sentadas para conversar, não dá para adiantar uma coisa que não depende só de nós. Em nenhum momento abrimos mão de conversar, mas precisa ter vontade recíproca”,.
O setor produtivo vem defendendo que o governo adote uma postura cautelosa, evitando a tensão político-ideológica entre Trump e Lula, para não instigar uma escalada na tensão comercial.
O republicano tem citado a investigação do STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a regulamentação das big techs no país como motivos por trás do tarifaço.
Questionado se as repercussões dos últimos dias poderiam significar um acirramento, Haddad disse que “não vejo escalada política de os países terem sua dinâmica institucional”.
Sobre uma possível taxação das gigantes da tecnologia como retaliação, o ministro deixou o assunto para o Congresso. Na terça-feira (22), o número 2 da Fazenda, o secretário-executivo Dario Durigan disse que, apesar de a ideia de cobrar as big techs ter amadurecido, o assunto não está na pauta do governo federal.
Ademais, perguntado sobre os governadores estaduais que estão anunciando medidas para socorrer as empresas em meio ao tarifaço, Haddad pontuou que “toda ajuda é bem vinda, mas são movimentos restritos, não tem alcance”. (Gabriel Garcia e João Nakamura, da CNN, em Brasília e São Paulo).
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