Em entrevista ao programa De Olho na Bahia, na Rádio Mix Salvador (104.3 FM), concedida aos jornalistas Matheus Morais e Osvaldo Lyra, o senador Jaques Wagner avaliou o atual momento do governo Lula, apontando os desafios enfrentados na comunicação e os efeitos do cenário internacional sobre a economia. O ex-governador afirmou que o governo reconhece o desgaste, mas aposta em ações para reconectar com a população.
Wagner aponta falha na comunicação e fake news para desgaste
Segundo o líder do governo no Senado, houve, inicialmente, falhas na forma de comunicar os feitos da gestão. Para Wagner, a mudança na chefia da comunicação, agora comandada pelo publicitário baiano Sidônio Palmeira, é uma tentativa de corrigir esse problema.
“O sistema de comunicação do governo não atendia, não estava conseguindo levar o recado até a população”, justificou.
“Isso foi mudado, agora quem assumiu a direção da comunicação do governo foi o Sidônio Palmeira, é ministro agora, e ele tem uma experiência larga, fez nossas campanhas praticamente todas, acompanhou os governos também, e eu percebo que isso está mudando”, completou.
Wagner também atribuiu parte das dificuldades enfrentadas ao ambiente virtual, dominado pelas fake news, e à instabilidade da economia global. Para ele, o Brasil enfrenta o impacto de fatores externos que vão além do controle do Palácio do Planalto.
“Depois da chegada das redes, da Internet, a mentira eletrônica, a mentira, aliás, virtual, chamada fake news, não é tão simples, as pessoas botam aí robô, botam umas coisas para reproduzir, muitas vezes eles acabam escamuteando a verdade e a realidade”, lamentou.
Avaliação econômica e desafios da inflação
Apesar das críticas, Jaques Wagner defendeu os avanços do governo na área econômica. Ele citou dados recentes e ressaltou o retorno do Brasil ao protagonismo internacional.
“Eu entendo que o Brasil hoje voltou a um cenário internacional de uma forma muito poderosa, hoje o Brasil voltou a sentar nas grandes mesas de negociação, voltamos à 9ª economia do mundo. Essa semana o Banco Mundial apresentou o balanço dos países com maior quantidade de reserva em dólar. O Brasil ficou também em 9º lugar”, destacou.
Segundo o líder governista, os indicadores sociais e econômicos melhoraram, mas há um ponto sensível que afeta diretamente a percepção popular sobre o governo: os alimentos.
“Os números da nossa economia, é só você ver a taxa de emprego lá embaixo, salário mínimo sendo valorizado, a renda das famílias crescendo. Agora temos um problema que machuca a população, que é a questão do preço dos alimentos”, ponderou
“Não é uma questão brasileira, não é uma questão do presidente Lula, é uma questão dessa crise internacional”, reforçou Wagner.
Mudança global e instabilidade econômica
O senador criticou as ações do governo americano no cenário internacional, classificando-as como uma espécie de guerra econômica. Para o petista, essa instabilidade contribui para os efeitos sentidos no Brasil.
“O governo americano resolveu fazer uma verdadeira guerra na economia internacional, eu confesso. Pra onde vai a economia? Até, sei lá, ano passado, a conversa era de globalização. Agora, pelo andar da carruagem do governo americano, vamos voltar a farinha pouca, meu pirão primeiro. Ou seja, quem tiver a unha maior, sobe na parede”, disse.
Além da economia, Wagner ressaltou mudanças profundas no comportamento social e no ambiente político do país. “O jeito das pessoas se relacionarem mudou muito, né? Eu nunca vi tanta destilaria de ódio, eu sou daqueles que eu acho que a democracia convive com o diálogo e com a conversa”, afirmou.
Pesquisas e memória eleitoral
Sobre a queda de popularidade do presidente Lula nas pesquisas, Jaques Wagner minimizou os números atuais e lembrou episódios do passado como exemplo de reviravolta. O próprio petista foi eleito, em primeiro turno, em 2003, ao Palácio de Ondina, contrariando todas as pesquisas e desbancando o então governador Paulo Souto (ex-PFL e hoje União Brasil) que tentava a reeleição. A eleição inédita foi retratada com uma fatídica foto do senador Antonio Carlos Magalhães de cabeça baixa no Palácio logo após o resultado da disputa que estampou todos os jornais na época.
“Não me assusto, você sabe que eu não sou o melhor exemplo pra falar de pesquisa. Eu digo pra meus amigos, não fiquem muito alegres com pesquisa boa, nem muito tristes com pesquisa ruim. Ela é uma fotografia do momento, ela tá boa hoje, pode tá ruim amanhã, tá ruim hoje, pode tá bom amanhã”, disse.
A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 2 de abril, aponta nova queda na aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora o recuo seja perceptível em todas as regiões do país, os dados do Nordeste — tradicional bastião petista — acendem o sinal de alerta no Palácio do Planalto.
De acordo com o levantamento, o índice de aprovação de Lula entre os eleitores nordestinos caiu de 59%, registrado em dezembro, para 52% em março. No mesmo período, a taxa de desaprovação subiu de 37% para 46%, indicando uma mudança significativa no humor do eleitorado da região. A Bahia também teve aumento na desaprovação, mesmo o Estado sendo historicamente reduto do presidente Lula e ser governador há 19 anos pelo PT.
Wagner relembrou o cenário de 2005, quando Lula enfrentava forte rejeição, mas venceu a eleição no ano seguinte. “Eu fico me lembrando de 2005, naquela época o presidente Lula tava no fundo do poço. Eu era também um articulador político dele. E todo mundo, nossa acabou, acabou, acabou. Virou 2006, ele acabou ganhando a reeleição dele no segundo turno, bem”, contou.
Segurança pública e articulação com Estados
Outro ponto enfatizado por Wagner foi a segurança pública. Ele reconheceu a gravidade do problema e destacou as iniciativas do governo federal para coordenar ações com os Estados.
“Temos um problema grave que é a segurança, é um problema também brasileiro e mundial, é uma guerra contra o tráfico de drogas, contra as milícias, nós estamos com o ministro Lewandowski, tentando fazer uma articulação com os 27 governadores, sem se meter na gestão da segurança pública de cada governo estadual”, explicou.
Para o senador, é essencial criar um sistema de informações integradas para facilitar o combate ao crime organizado. “Hoje no Brasil cada brasileiro pode ter 27 carteiras de identidade, pode tirar um RG em cada estado, não tem o menor sentido isso, isso é bom para quem quer fazer alguma coisa errada. Agora, nós temos que unificar isso, temos que unificar a informação sobre a bandidagem”, reforçou.
Ele também defendeu o uso de tecnologia e o aumento de efetivo nas forças de segurança estaduais. Segundo o petista, tecnologia mais moderna e mais câmeras ajudam na identificação de bandidos, traficantes. Além disso, ele ressaltou que o governador Jerônimo Rodrigues tem trabalhado nisso, com convocação de policiais da reserva e novos policiais.
“Quero deixar claro, esse combate não é exclusivo do governo, é preciso que haja também uma cumplicidade com o Poder Judiciário, com a Assembleia Legislativa, com o Ministério Público, com a Defensoria, de tal forma que todo mundo dê a sua contribuição naquilo que hoje, para mim, é muito fundamental, que é a tranquilidade das famílias”, afirmou.
Aposta na recuperação com Lula e Jerônimo
Apesar do cenário desafiador, Jaques Wagner mantém a confiança na recuperação da imagem do presidente Lula e na união entre o Planalto e o governo da Bahia para resolver a crise na segurança pública. Para ele, há tempo suficiente até a próxima eleição para que os resultados apareçam e o cenário político mude.
“Houve essa avaliação mais baixa do presidente, eu acho que a gente ainda está longe da data da eleição. Um ano e pouco até a eleição, vamos ver como é que vai respaldar a economia, vamos ver como é que o mundo inteiro vai se desenvolver dentro desse ambiente de dúvida e vamos enfrentar a batalha com o Jerônimo Rodrigues no governo e o presidente Lula na presidência”, concluiu. (Osvaldo Lyra, Raiane Veríssimo e Iago Bacelar – Muita Informação).
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado