Wagner aponta falha na comunicação, reconhece desgaste do governo Lula, mas aposta na recuperação até 2026

Em entrevista ao programa De Olho na Bahia, na Rádio Mix Salvador (104.3 FM), concedida aos jornalistas Matheus Morais e Osvaldo Lyra, o senador Jaques Wagner avaliou o atual momento do governo Lula, apontando os desafios enfrentados na comunicação e os efeitos do cenário internacional sobre a economia. O ex-governador afirmou que o governo reconhece o desgaste, mas aposta em ações para reconectar com a população.

Wagner aponta falha na comunicação e fake news para desgaste

Segundo o líder do governo no Senado, houve, inicialmente, falhas na forma de comunicar os feitos da gestão. Para Wagner, a mudança na chefia da comunicação, agora comandada pelo publicitário baiano Sidônio Palmeira, é uma tentativa de corrigir esse problema.

“O sistema de comunicação do governo não atendia, não estava conseguindo levar o recado até a população”, justificou.

“Isso foi mudado, agora quem assumiu a direção da comunicação do governo foi o Sidônio Palmeira, é ministro agora, e ele tem uma experiência larga, fez nossas campanhas praticamente todas, acompanhou os governos também, e eu percebo que isso está mudando”, completou.

Wagner também atribuiu parte das dificuldades enfrentadas ao ambiente virtual, dominado pelas fake news, e à instabilidade da economia global. Para ele, o Brasil enfrenta o impacto de fatores externos que vão além do controle do Palácio do Planalto.

“Depois da chegada das redes, da Internet, a mentira eletrônica, a mentira, aliás, virtual, chamada fake news, não é tão simples, as pessoas botam aí robô, botam umas coisas para reproduzir, muitas vezes eles acabam escamuteando a verdade e a realidade”, lamentou.

Avaliação econômica e desafios da inflação

Apesar das críticas, Jaques Wagner defendeu os avanços do governo na área econômica. Ele citou dados recentes e ressaltou o retorno do Brasil ao protagonismo internacional.

“Eu entendo que o Brasil hoje voltou a um cenário internacional de uma forma muito poderosa, hoje o Brasil voltou a sentar nas grandes mesas de negociação, voltamos à 9ª economia do mundo. Essa semana o Banco Mundial apresentou o balanço dos países com maior quantidade de reserva em dólar. O Brasil ficou também em 9º lugar”, destacou.

Segundo o líder governista, os indicadores sociais e econômicos melhoraram, mas há um ponto sensível que afeta diretamente a percepção popular sobre o governo: os alimentos.

“Os números da nossa economia, é só você ver a taxa de emprego lá embaixo, salário mínimo sendo valorizado, a renda das famílias crescendo. Agora temos um problema que machuca a população, que é a questão do preço dos alimentos”, ponderou

“Não é uma questão brasileira, não é uma questão do presidente Lula, é uma questão dessa crise internacional”, reforçou Wagner.

Mudança global e instabilidade econômica

O senador criticou as ações do governo americano no cenário internacional, classificando-as como uma espécie de guerra econômica. Para o petista, essa instabilidade contribui para os efeitos sentidos no Brasil.

“O governo americano resolveu fazer uma verdadeira guerra na economia internacional, eu confesso. Pra onde vai a economia? Até, sei lá, ano passado, a conversa era de globalização. Agora, pelo andar da carruagem do governo americano, vamos voltar a farinha pouca, meu pirão primeiro. Ou seja, quem tiver a unha maior, sobe na parede”, disse.

Além da economia, Wagner ressaltou mudanças profundas no comportamento social e no ambiente político do país. “O jeito das pessoas se relacionarem mudou muito, né? Eu nunca vi tanta destilaria de ódio, eu sou daqueles que eu acho que a democracia convive com o diálogo e com a conversa”, afirmou.

Pesquisas e memória eleitoral

Sobre a queda de popularidade do presidente Lula nas pesquisas, Jaques Wagner minimizou os números atuais e lembrou episódios do passado como exemplo de reviravolta. O próprio petista foi eleito, em primeiro turno, em 2003, ao Palácio de Ondina, contrariando todas as pesquisas e desbancando o então governador Paulo Souto (ex-PFL e hoje União Brasil) que tentava a reeleição. A eleição inédita foi retratada com uma fatídica foto do senador Antonio Carlos Magalhães de cabeça baixa no Palácio logo após o resultado da disputa que estampou todos os jornais na época.

“Não me assusto, você sabe que eu não sou o melhor exemplo pra falar de pesquisa. Eu digo pra meus amigos, não fiquem muito alegres com pesquisa boa, nem muito tristes com pesquisa ruim. Ela é uma fotografia do momento, ela tá boa hoje, pode tá ruim amanhã, tá ruim hoje, pode tá bom amanhã”, disse.

A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 2 de abril, aponta nova queda na aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora o recuo seja perceptível em todas as regiões do país, os dados do Nordeste — tradicional bastião petista — acendem o sinal de alerta no Palácio do Planalto.

De acordo com o levantamento, o índice de aprovação de Lula entre os eleitores nordestinos caiu de 59%, registrado em dezembro, para 52% em março. No mesmo período, a taxa de desaprovação subiu de 37% para 46%, indicando uma mudança significativa no humor do eleitorado da região. A Bahia também teve aumento na desaprovação, mesmo o Estado sendo historicamente reduto do presidente Lula e ser governador há 19 anos pelo PT.

Wagner relembrou o cenário de 2005, quando Lula enfrentava forte rejeição, mas venceu a eleição no ano seguinte. “Eu fico me lembrando de 2005, naquela época o presidente Lula tava no fundo do poço. Eu era também um articulador político dele. E todo mundo, nossa acabou, acabou, acabou. Virou 2006, ele acabou ganhando a reeleição dele no segundo turno, bem”, contou.

Segurança pública e articulação com Estados

Outro ponto enfatizado por Wagner foi a segurança pública. Ele reconheceu a gravidade do problema e destacou as iniciativas do governo federal para coordenar ações com os Estados.

“Temos um problema grave que é a segurança, é um problema também brasileiro e mundial, é uma guerra contra o tráfico de drogas, contra as milícias, nós estamos com o ministro Lewandowski, tentando fazer uma articulação com os 27 governadores, sem se meter na gestão da segurança pública de cada governo estadual”, explicou.

Para o senador, é essencial criar um sistema de informações integradas para facilitar o combate ao crime organizado. “Hoje no Brasil cada brasileiro pode ter 27 carteiras de identidade, pode tirar um RG em cada estado, não tem o menor sentido isso, isso é bom para quem quer fazer alguma coisa errada. Agora, nós temos que unificar isso, temos que unificar a informação sobre a bandidagem”, reforçou.

Ele também defendeu o uso de tecnologia e o aumento de efetivo nas forças de segurança estaduais. Segundo o petista, tecnologia mais moderna e mais câmeras ajudam na identificação de bandidos, traficantes. Além disso, ele ressaltou que o governador Jerônimo Rodrigues tem trabalhado nisso, com convocação de policiais da reserva e novos policiais.

“Quero deixar claro, esse combate não é exclusivo do governo, é preciso que haja também uma cumplicidade com o Poder Judiciário, com a Assembleia Legislativa, com o Ministério Público, com a Defensoria, de tal forma que todo mundo dê a sua contribuição naquilo que hoje, para mim, é muito fundamental, que é a tranquilidade das famílias”, afirmou.

Aposta na recuperação com Lula e Jerônimo

Apesar do cenário desafiador, Jaques Wagner mantém a confiança na recuperação da imagem do presidente Lula e na união entre o Planalto e o governo da Bahia para resolver a crise na segurança pública. Para ele, há tempo suficiente até a próxima eleição para que os resultados apareçam e o cenário político mude.

Houve essa avaliação mais baixa do presidente, eu acho que a gente ainda está longe da data da eleição. Um ano e pouco até a eleição, vamos ver como é que vai respaldar a economia, vamos ver como é que o mundo inteiro vai se desenvolver dentro desse ambiente de dúvida e vamos enfrentar a batalha com o Jerônimo Rodrigues no governo e o presidente Lula na presidência”, concluiu. (Osvaldo Lyra, Raiane Veríssimo e Iago Bacelar – Muita Informação).

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado