Vandalismo marca reintegração de posse no centro de São Paulo

Um ônibus biarticulado foi incendiado em frente ao Theatro
Municipal de São Paulo durante confronto entre a Polícia Militar e moradores de
um prédio ocupado no centro de São Paulo, na manhã desta terça-feira, 16. A PM
tenta cumprir pela terceira vez uma ordem de reintegração de posse do imóvel,
mas foi atacada com objetos lançados do alto do prédio. Os policiais
responderam com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

A reintegração de posse foi determinada pela 25ª Vara Cível
do Foro Central a pedido do proprietário do imóvel localizado na Avenida São
João. Representantes do Movimento Sem-teto do Centro (MSTC) declararam que
permanecerão no prédio até que se cumpra um acordo e caminhões e carregadores
sejam apresentados para a realização da mudança.

Essa é a terceira vez que a PM tenta cumprir a ordem
judicial. Nos dias 11 de junho e 27 de agosto, as tentativas não foram
bem-sucedidas. No mês passado, a ação tinha sido suspensa porque os oficiais de
Justiça avaliaram que a quantidade de caminhões e transportadores ainda não era
suficiente.

Moradores fizeram um |cinturão de proteção| com crianças e
mulheres, autêntica barricada. Atearam fogo em pedaços de móveis, lixo e outros
objetos na Avenida São João, próximo a ônibus que foram abandonados no local
durante conflito entre os sem-teto e a PM. Policiais da Tropa de Choque, que
conta com um carro blindado, fizeram cerco e reagiram com bombas de efeito
moral e gás lacrimogêneo.

Ainda há pessoas no prédio que se recusam a deixar o
edifício. O cruzamento da Avenida São João com a Avenida Ipiranga está
bloqueado. Na região, há pelo menos 10 viaturas da PM e um helicóptero Águia.
Os manifestantes arremessam objetos em direção aos policiais. Alguns arrancam
pedaços de concreto das calçadas para usar contra a Polícia.

Em entrevista à Rádio Estadão, a coordenadora do Movimento
Sem-teto do Centro (MSTC), Ivonete Araújo, reforçou as reclamações contra um
acordo que não teria sido cumprido. |O proprietário não cumpriu os meios que
ficaram acordados em uma reunião. Ele prometeu 40 caminhões, 120 carregadores e
não tem|, disse.

Ivonete disse que as famílias que ocupam o prédio não têm
para onde ir e a intenção é permanecer no imóvel. |Vai sair para onde? Vai
carregar os móveis como? O Judiciário não olha para a questão social. Como é que
eles vão sair? Não tem meios|, reclamou.

Não há confirmação da quantidade de pessoas que ocupam o
local: a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) estima em 200
pessoas, mas há a possibilidade de o número ser maior e ultrapassar 500. O
prédio de 20 andares está ocupado há seis meses pelo MSTC.

Por volta de 10h30, um ônibus da Polícia Militar com
moradores do prédio ocupado, inclusive com crianças, seguiu para a 3ª DP de São
Paulo, em Campos Elíseos.

Após nova tentativa de diálogo nesta terça-feira, móveis
começaram a ser lançados de cima do prédio. A PM isolou avenidas da proximidade
e acionou o Batalhão de Choque para o local. Segundo a São Paulo Transporte
(SPTrans), o bloqueio afeta um ponto de ônibus e cerca de 30 linhas foram
alteradas. (Diário do Poder)