Datafolha: uma boa e uma má notícia para Marina Silva

Marina Silva virou vidraça há mais ou menos um mês. Com
chances reais de garantir a vaga no segundo turno, e lá bater a presidenta
Dilma Rousseff, a candidata do PSB, após substituir o presidenciável Eduardo
Campos, morto em um acidente de avião, sente na pele as dores e as delícias do
protagonismo e da megaexposição.

Assustados, os adversários tentam colar nela a pecha de
uma candidata dúbia, sem posição definida sobre as leis trabalhistas, a Anistia
e os direitos humanos, e com propostas de gosto duvidoso sobre a exploração do
petróleo na camada do pré-sal e a independência do Banco Central.

A artilharia parece provocar efeito. Desde o dia 29 de
agosto, quando atingiu 34 das intenções de voto no Datafolha, Marina oscila
mas não cai. Agora caiu. Na última pesquisa do instituto, divulgada na
quinta-feira 18, ela já aparecia com 30 , sete pontos percentuais atrás de
Dilma e 13 na frente de Aécio Neves, de quem já teve margem de distância de 20
pontos.

O enquadramento da candidata parece claro, mas dele é
possível tirar duas leituras. Uma é que, de fato, a candidatura da ex-senadora
está encolhendo. Se a tendência se confirmar, Dilma e Aécio terão cerca de 15
dias e tempo de tevê de sobra para reforçar a artilharia e fazer com que a
rival chegue à data-limite da eleição fragilizada e sob risco de ficar de fora
do segundo turno ? o sonho de consumo tanto de petistas como dos tucanos.

A outra leitura é que, diante da artilharia e do tempo
disponível para se defender, o tombo ficou de bom tamanho. Por essa lógica, se
em 30 dias nenhum tiro alvejou o peito da candidata, os disparos não devem
provocar maiores estragos até 5 de outubro. Afinal, com o cenário das atuais
candidaturas consolidado, Aécio jamais passou da linha dos 20 pontos. E Dilma
jamais atingiu os 40. Marina está atrás de Dilma, ainda a venceria no segundo
turno, e tem vantagem considerável, embora nunca segura, em relação ao terceiro
colocado.

Qualquer mudança nesse quadro pode depender, a partir de
agora, mais dos esforços dos candidatos em seus redutos do que da desconstrução
em curso da ex-ministra. É a chamada correção de rotas. Aécio retoma fôlego em
Minas, onde até ontem aparecia em terceiro lugar e agora promete não cochilar.
Marina, que em um mês viu a rejeição à sua candidatura dobrar, já não é a
favorita no Sudeste nem entre os jovens. Dilma, por sua vez, segue nadando de
braçada no Norte e no Nordeste, onde o rival tucano já jogou a toalha. Mas terá
dificuldades se não encurtar as distâncias em São Paulo, o maior colégio
eleitoral do País.

É possível uma reviravolta a essa altura do campeonato?
É difícil. No estafe tucano, os apoiadores de Aécio lembram da desidratação da
candidatura de Celso Russomano, do nanico PRB, em 2012. Fernando Haddad (PT),
que acabou eleito, começou a subir mais ou menos nessa época da disputa. Mas
São Paulo não é o Brasil e o PSB não é o PRB, embora não tenha a mesma base e
militância de tucanos e petistas.

Nas últimas eleições presidenciais, apenas em 2002 houve
uma mudança como a esperada pelos tucanos. Ainda assim não tão brusca. Ciro
Gomes, então candidato do PPS, chegou a encostar em José Serra (PSDB) com cerca
de 20 dos votos em meados de julho, mas viu a rejeição do eleitor disparar
após dizer que a atriz Patricia Pilar, com quem era casado, tinha como única
missão na campanha ?dormir com ele?. No fim de setembro, Ciro tinha 13 das
intenções de voto no Datafolha. Terminou com menos de 12 . Naquela disputa,
entretanto, havia quatro candidatos competitivos. Garotinho, que empatava com
Ciro no fim de setembro, encerrou a eleição com 17 .

Talvez a melhor inspiração para os tucanos seja o
desempenho da própria Marina Silva, então no PV, em 2010. Mais ou menos nessa
época de setembro, ela figurava no Datafolha com 11 das preferências dos
eleitores. Terminou a corrida, 15 dias depois, com 20 dos votos. Não chegou a
mudar a ordem de chegada, mas causou estrago suficiente para forçar o segundo
turno entre Dilma Rousseff e José Serra.

Por isso a análise, a essa altura, exige cautela.
Qualquer oscilação a partir de agora pode provocar um tsunami até 5 de outubro.
Só não se sabe para onde a onda oscila. Nem qual lado pode ser engolido. (Matheus Pichonelli, 31 anos, é jornalista
e cientista social/Yahoo)